segunda-feira, 9 de março de 2009

O nome da coisa

É humano ter a coisa. Aliás, essa é uma condição inescapável. Antes de recebermos um nome, somos previamente classificados de acordo com a coisa. A coisa sempre vem antes de tudo. É, desde que mundo é mundo, um fator determinante. Alguns não aceitam as coisas que têm, mas esse é um aspecto que nem vem ao caso.
Afinal, que é a coisa? Mais importante que isso: como chamar a coisa?
O homem sempre se apresenta muito capcioso ao tratar disso, a ponto de parecer assim uma falta de intimidade com assunto ou uma tentativa vã de se construir uma redoma inquebrantável de falsa pudicícia sobre o mesmo. Tudo o que não é. Há um receio, um cuidado, como se o termo empregado para designar a coisa pudesse surtir um impacto sempre negativo ao pudor alheio. Sinceramente, não é esta postura pudica - tampouco despudorada - que você vai encontrar no que resta dessa postagem. Portanto, vista seus óculos puramente analíticos para ler o que virá.
Pra quê tanto tabu em relação ao nome do sexo? Me lembro, certa feita, que minha mãe me contou que perguntou à minha vó o que era "boceta" e ganhou um doído roxo que durou quase uma semana. Na infância, minha vagina assumiu várias identidades, de acordo com as pessoas, sempre de modo eufemista a fim de 'disfarçar' a função que ela viria a ter um dia. Para minha mãe, era pepeca (não sei o porquê, mas sempre odiei esse nome). Para minha tia, chuvinha (esse eu acho bem engraçado). Para minha avó, era perereca. Acredito que durante esse breve espaço de tempo em que o aparelho sexual da mulher é ainda tão inocente e virginal, existe uma aproximação da sonoridade com a consoante "P". Porém, depois que elas desabrocham, se cobrem de pêlos e viram indistintamente bocetas, há algo de chulo e mundano na associação sonora da letra "X" aos seus nomes. Afinal, até hoje desconheço uma menina de 7 anos possuidora de xoxota (esse nome aí é uó).
O mesmo acontece com o pênis. Na conversa onde esse post estava sendo fecundado, um amigo me confessou que por volta dos seus 8 anos, o dele era "pipico". Você, leitor, já deve estar familiarizado o bastante com os nominhos característicos que sucedem o "pipico" para eu me dar ao trabalho de citá-los. Acontece que na transição para a maturidade, (quicá culturalmente), existe um abrutalhamento para a nomenclatura do pau. Como se sua vigorosidade e conseqüente potência morassem nessas espécies de epítedos, a ponto de se tornarem palavrão na boca do povo, tamanha a grossura. O que há de tão monstruoso em "caralho"? A imundície na cabeça das pessoas é infinda.
Claro que sou desfavorabilíssima a conservar os nomes "fofos" dos órgãos sexuais depois da maturidade. É ilógico, doentio eu diria. Mas, com a mesma desfavorabilidade, critico o modo censor e sujo com os quais são vistas nossas partes íntimas, que, de tão bonitas e necessárias, pedem mais respeito aos contextos em que são deliberadamente inseridas. Palavrão é guerra, ódio, violência.
Já "piroca" eu considero bom demais.

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