quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ao poema

O poema... é um corpo que
tomba na imensidão do nada. E
queda-se longamente,
tentando abraçar-se aos
galhos fluidos
que ladeiam as paredes do
abismo.
O poema canta o ordinário.
Em sua língua estão pedras no caminho,
casas entre bananeiras
moças subindo ladeiras e
dentes-de-leão alados.
Não se envaidece em castelos. Nem em reinos de areia e ar.
O poema cambaleia, e engasga
quando sai da boca negra das canetas
para aportar em segura e branca
folha de papel - até aqui
nadou a cegas braçadas pelos mares odisseicos do pensamento -
É a força de nascer.
O poema é um monstro. É um deus.
A ele o que mais interessa
é a função de caber-se em si
e escapar de si
enquanto devora as gordas beiradas que o cerca.


*Iniciado dentro de um ônibus em movimento e finalizado no apagão do Rio (10/11/09)