sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Tua quadragésima revolução solar

Vais saber
Num dia, longe deste,
Todos os amores que tanto te dei
Apesar de todos estes teus gritos,
Tua relutância.
Na tua quadragésima revolução solar.
Verás
Que quando te repreendi
Não foi por mal, e sempre pensando no teu bem
Que todas as vezes que te disse palavras duras
Foi para amortecer tuas quedas
seqüenciais.
Na tua quadragésima revolução solar.
Sentirás
Toda a dor e dissabor que também experimentei
Quando deres a luz a alguém como você
Como és como eu
Tua quadragésima revolução solar.
Vais pensar
Em quantas vezes me deixaste aflita
Nas tantas vezes me encontrei chorando
Pelas agressões ditas
Quando te olhares a si mesma,
Tua quadragésima revolução solar.
Perceberás
O quanto fois pisando nas marcas que deixei pra ti
Quanto de mim que está em ti
Quanto ainda se revelará.
Na tua quadragésima revolução solar.
Vais pensar, e vais lembrar
De todas as nossas falhas, tão atreladas
Como o sangue meu, que também carregas aí dentro,
Tão dentro que não te dicernes mais onde estais.
Tua quadragésima revolução solar.
Aprenderás
Que velei tuas noites, todos os dias.
Que sofri com tuas frustrações
Que presenciei todos os teus momentos, ainda que no silêncio;
Ainda que quisesse falar.
Tua quadragésima revolução solar.
Te embevecerás
No momento epifânico em que te reconhecerás
Nua, diante do pior dos julgamentos: o teu próprio.
É quando o tempo te desferirá o mais forte dos golpes
Golpe da razão. Do amadurecimento.
E te doerás simultâneamente aliviada
Quando então todos os meus segredos te contar
A tua quadragésima revolução solar.

Para minha mãe.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Meu tributo ao homem - 40 anos sem Che

Pensar nele me apequena, me fortalece. olhos e coração apaixonados eram capazes de transpor, sinergicamente, todo e qualquer obstáculo, ainda que fraquejasse. Ainda que não conseguisse (ele também era composto de carne e sangue). No fim das contas, ele era apenas um mortal que uma morte brutal converteu em superceleste.
Não admito que arranhem a imagem do meu herói. Que tentem distorcer, deturpar toda a jornada de vida dele e vender sua imagem, numa completa contramão de tudo o que um dia ele pregou. Sim, ele era um homem, e os homens estão permanentemente sucetíveis a errar, muitas vezes em sua vida. Meu herói é um homem, não um santo; e é por isso que está em tão enaltecido patamar: por conseguir estabelecer o paradoxo exatamente entre a mortalidade e a divindade, aproximando-se dos humanos com a candura dos anjos. Meu herói é a fusão da temerariedade típica dos aventureiros com a feição que acalma as crianças. É entusiasta, é amigo, é irmão.
Num mundo que torce a verdade e consegue, quase sempre com um sucesso assombroso corromper a moral dos homens das mais variadas camadas sociais, o homem-tocha, centro da minha admiração, ergue-se do mar de desesperança com suas asas vermelhas, permanecendo incólume à adversidade, à batalha em continuar sendo puro; como a alva rosa que despedaça-se ao vento para evitar entregar-se lentamente ao inverno que a devorará. Poucos homens seriam capazes de grandiosidade tamanha, de uma ovação desta ordem. Sacrifício e reconhecimento são duas retas pararelas durante toda a vida daqueles que assim se doam, que interceccionam-se exatamente no momento do desencarne altruísta de um homem cuja aura iluminada ganha força, e alastra-se pelo mundo, encontrando seu lugar nos corações daqueles que não sabem, sentem. E, quando esta luz encontra seu lugar, quando sabe que é definitivo, nunca mais se apaga.
Meu tributo a este homem é do tamanho do meu amor por ele e pela sua causa. Um homem que está acima das críticas rasas que línguas bifurcadas e invejosas destilam do alto do mais elevado recalque. O homem que viveu em função do outro, que deu-se inteiro para provar a verdade.
Para Ernesto, cuja luz está em mim.