sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Guirlanda

primeiro há que unir as uvas
nos seus volteios esguios
a safra da vida
dá-se corda no rabo espiralado
das lichias
doces
macias
apesar de sua robustez de réptil
menos doces os morangos
também compondo o arranjo
sucessivos cachos vermelhos alinhavados todos
em apurado rigor estético
pendendo costeletas
é preciso jeito com as ameixas
e sua carne tenra a arrebentar a força
também é preciso jeito
com a altivez monárquica dos pêssegos
que pesados têm vontade própria
as acerolas são doces e fáceis
podendo ser encaixadas quase em qualquer lugar
onde haja alguma ausência
como as cerejas, mas essas
estrangeiras,
não se prestam a qualquer posição

por questões dimensionais
as maçãs se tornam disfuncionais

alguma beleza na paciência
de tecer com os dedos uma guirlanda
pequeno ritual a todo dionísio dentro
nas noites em que o sonho vai à varanda.



para julya