quinta-feira, 30 de maio de 2013

Poeira


teu beijo
tinha gosto de sonho
e os teus olhos eram mais doces
cheios de manchas verdes
selvagens oceanos pré-cambrianos.
teus beijos também eram mais selvagens
e vinham assim, líquidos
lascivos, cheios de novidade.
e eu perdia muitos minutos te olhando depois.
muitos minutos mais.
hoje
teus beijos - na minha testa -
têm gosto de lã
e o nosso amor é assim,
confortável...

Confortável.

domingo, 19 de maio de 2013

A morte é doce


Formigas irrisórias se alimentam dos restos de chocolate no copo esquecido sobre a mesa. Me presto a observar seus movimentos. São tão humanas. Gostam de chocolate, como os humanos. Se aproximam da lagoa doce e escura e, sendo a esmola muita, desconfiam, se retraem - o que pensaria um humano consumidor de coca-cola ao se deparar com uma piscina gigantesca da bebida? Mas, como os humanos, são vencidas pela curiosidade e pela tentação. Humanas que são, contam a novidade às outras, que vêm todas em marcha, e logo há um pequeno maracanã diminuto de formigas gritando - na sua inaudível língua de formiga ao ouvido humano - sobre aquela maravilha que encontraram. Mas como os humanos, as formigas são tolas e desatentas, e não percebem que começam a ficar lentas, que suas patas começam a ficar pesadas: elas estão tendo uma overdose, mas não conseguem parar de sugar aquele açúcar perigoso, prazeroso, aquele açúcar que a essa altura já entupiu algum ducto que daqui não consigo ver que faz com que elas respirem.

E assim, quarenta minutos depois, o que há é uma pasta fofa, confusa e uníssona de formigas defuntas que foram enganadas por um oásis doce demais.