sexta-feira, 9 de abril de 2010

A ilha da cabeça

Até onde um isolamento prolongado é seguro? Existe algum limite real de segurança aí estipulado? O que é preciso fazer a fim de não enlouquecer quando nos encontramos nus à merce duma devoradora câmara de espelhos?
Há mil maneiras de se pirar em sociedade. Tudo cosmopolitou-se num excesso aterrador, prédios e pontes ganharam poros, as pessoas têm suor nos olhos e essa eletricidade corpórea é um câncer do tipo contagioso. Mas há mil e uma maneiras de se surtar no isolamento. É que somos nocivos a nós mesmos, sabemos e muitos de nós temos um medo inconsciente disso. Quando ficamos sós por um longo período de tempo, nossa mente começa a trabalhar por dois, e possivelmente se volta contra nós.
Não é pessimismo. É estatístico. A solidão testa a sanidade; vide como corpus os náufragos, os ermitões, os escritores que sobem mais de mil e oitocentas colinas em busca do isolamento completo, os pêlos descuidados das barbas dos dementes. Por trás dos olhares perdidos ou afoitos dos loucos, que atingiram essa condição pelo desligamento integral com a dogmática da sociedade, houve homens sãos. E entre o são e o atordoado, houve um estiramento do juízo que cambaleou, gritou por socorro e atirou-se no chão, vencido. O jogo e a competição se parecem, mas não são a mesma coisa; sendo interdependentes.
Ninguém enlouquece assim da noite para o dia, vale ressaltar. É um processo custoso. Loucura se dá por metástase, entranhando aqui, ali; no escuro, no silêncio. Às vezes, é muito conveniente um retiro ou resguardo para que se renovem conceitos, idéias, sonhos, projetos; para que se faça um estudo à luz da razão sobre tudo aquilo que, imerso no ralo de caos dos dias, torna-se impossível de ser notado e perde-se. Isso pede atenção, mas apenas isso: alimentando a tensão sobre um problema, acaba-se por supradimensioná-lo.
Encontrar o equilíbrio entre a introspecção oportuna e a hora certa de pôr a cabeça para fora da areia não é nada fácil. É uma jornada solitária em busca do Santo Graal zeitgeistíco dos nossos mundos. De qualquer modo, é preciso coragem: a maior quantidade possível de percalços está sempre dentro de nós mesmos.