quarta-feira, 14 de março de 2012

A penúltima panorâmica

 Se você um dia
 se sentar sob a grama rala
 das encostas que estrategicamente se abrigam
 das águas mansas da cidade de Niterói
 e girar em torno do próprio eixo
 você vai ver

 um forte
 uma ponte
 uns prédios
 umas montanhas
 uma obra da engenharia
 que liga essas montanhas
 e outras montanhas

 devidamente emoldurados por

 barcos pequenos
 um céu cheio da chuva que ainda não caiu
 e as águas prateadas
 mansas e prateadas
 sob o morno sol de março
 da cidade de Niterói.

A Dali tree

Primeiro era uma entidade indiana de muitos braços, com cabeça de elefante, que bailava sobre uma perna longilínea enquanto a outra estava suspensa pelo equilíbrio teso de quem passou muitos anos fazendo pliés perfeitos.

Depois era um imperioso espírito da floresta, com um rosto austero, encarando uma intruso que pretendia exterminá-lo. Tinha cabelos revoltos, para intencionalmente assustar seus agressores, mas seu interior abrigaria passarinhos.

Finalmente, era uma árvore qualquer, que havia nascido por acaso, a fazer sombra nos dias quentes para que sob sua copa se sentassem pessoas para uma leitura qualquer, num canto qualquer da universidade.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Em 29 de fevereiro

Casem com o melhor amigo, comprem bicicletas, atirem-se do prédio, corram no meio da pista, beijem na boca de um estranho, declarem amor ou ódio, digam uma coisa que nunca disseram antes, escutem uma música que nunca escutaram antes, fiquem nus na janela e dancem,  plantem um filho, colham uma cenoura, falem com um desafeto, pintem as paredes do quarto de roxo, roubem um banco, peçam desculpas, joguem no bicho, xinguem seus chefes, vão à praia de terno, queimem o jornal de ontem, pisem na grama, cortem o cabelo, coloquem um piercing na língua.