sábado, 24 de novembro de 2007

Um mês, uma vida - a grande guinada de novembro

Tempo. Eis uma coisa que tem me faltado.
Incrível como certas coisas mudam tanto de uma hora pra outra. Como sua vida parece ser tão frágil, e como ela pode "rebobinar" em instantes, ao momento em que você fita a luz nos primeiros instantes de sua vida. Novembro.
Minha vida deu uma guinada muito forte esse mês. Duma hora pra outra, meu acidente epifânico foi meu batismo. Eu senti a efemeridade da minha vida, enquanto o carro girava na pista molhada. Depois, só o buraco no psicológico, um vazio, uma dor que eu não conseguia preencher com nada, por mais que estivesse no seio da minha casa, dormindo ao lado de quem amo, os olhos permaneceram abertos, por toda a madrugada.
Recuperada do trauma, a pressão. A pressão, a pressão. Na garagem, o carro me olhava, destroçado, ao que eu não sabia ao certo que fazer, o que dizer, "como foi mesmo Ana Líbia", não lembro.
Talvez tivesse sido pra ser. E Deus ou Nitiren queria que o 3 de novembro datasse o nascer de uma mulher nova, que fosse trabalhar, que fosse à luta, solo, que passasse no vestibular. Que se despisse dos resquícios de infantilidade que moravam nos seus pensamentos, e que tomasse outra postura em relação ao mundo em que vive. Que amadurecesse de dentro pra fora, configurando-se no que eu ainda estou pra me tornar.
O tempo é o sábio dos sábios, e ele sabe exatamente o que faz. Deus é tempo, porque você espera nele, e nele alcança, seja o que for. Mas meu tempo parece ter se comprimido em novembro. Sinto-me como se tivesse vivido décadas nos últimos dias, como se tivesse envelhecido.
Quod me nutrit, me detruit. Sim, porque a função do oxigênio, além de te conceber a vida, é também te oxidar. Sorte minha, eu não tenho medo disso. Eu quero envelhecer. Mas isso já é outra história que eu não vou contar hoje. :)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Silêncio de papel

O clima é infando. O ambiente está impregnado de uma batida e luzes que são percebidos há metros de distância, e que contagiam, que atraem os sentidos e molestam o corriqueiro. É a entrada do sítio Happy Land, em Itaboraí, a aproximadamente uma hora e meia do Rio de Janeiro, onde se dará a Tribe Rio, uma festa rave que é organizada há 7 anos. A maioria esmagadora das pessoas vai para dançar à batida metalizada. Mas nem todas lá se reunem com o mesmo propósito.
O caso ilustrativo é a trágica morte do menor Lucas Maioriano Francesco, 17 anos, de overdose. Tendo em mãos uma carteira de identidade adulterada, o jovem ingressa na festa, onde teria consumido as susbstâncias que o levaram ao óbito. A ocorrência de um acidente no Recreio dos Bandeirantes também está ligada à festa. Para finalizar, uma quadrilha de classe média foi capturada na Zona Sul do Rio, também associada à rave, fora os 18 hospitalizados com suspeitas de intoxicação, nos postos instalados nas proximidades do evento.
O jornal "O Dia" (como muitos outros) estampou, na sua matéria central, a manchete: "Fim da festa do tráfico", por Leslie Leitão, no dia 2 de novembro de 2007. Por si só, o título já se apresenta tendencioso, indiscriminando as pessoas que vão ao local para curtir o som, pela configuração que mescla o bucolismo e a psicodelia. Ao cerne da reportagem, se utilizando da parca riqueza estilística característica da mídia sensacionalista, a agressiva frase "[...]o estudante de direito Eduardo [...], 26 anos, foi um dos 3 presos que participaram da "festa das drogas"[...]" denota ainda mais a feroz distorção e alienação que se promove em torno de acontecimentos isolados, quando não esporádicos ligados à festas que são freqüentadas por pessoas de classe média e classe média alta. Noutra página, "Retrato de uma geração" é uma continuação do que a mensagem inicial se destina: "propagar a má imagem das raves para as pessoas menos esclarecidas, que se contentam com informações baratas de jornais cujo propósito visa tão somente o lucro, pouco atinando-se à qualidade da notícia que será disseminada para seu perigoso público alvo, que é o expresso; que repassará tais fatos sem dar importância à sua veracidade, assim contribuindo para a marginalização desse tipo de evento.
Em países como Darfur, África, onde os órfãos da guerra civil constante são cada vez mais crescentes, é comum que os comandantes vitoriosos de exércitos e mílicias usem estas crianças para favorecê-los em combate, criando infantarias inteiras. Para tal feito, dopam as mesmas com toda a sorte de alucinógenos e depressivos, que tão cedo já conhecem a violência do continente à margem da "globalização", não tendo escolha ou voz. No entanto, não existem conflitos nesse grau dentro das raves, consoante ninguém é obriga as pessoas a se drogarem.
As drogas estão lá, e existem em qualquer lugar. Raves não são excessão. Assim como nelas, essas substâncias marcam presença nas micaretas, chopadas de faculdades, festas comuns, festas das altas rodas, festas de celebridades, em escritórios formais e etc. Elas estão lá como numa vitrine; e você pode usá-las ou não, basta escolher - ou ter poder aquisitivo para obtê-las. Não, este texto não se propõe a defender o consumo de drogas, mas expõe o lógico: que trata-se de uma grandicíssima hipocrisia da nossa sociedade tentar manchar a imagem das festas de música eletrônica, por alegar o consumo irrefreável de drogas sintéticas. Com certeza, a mídia é um agente muitíssimo eficiente na corroboração desta mensagem, que vem a influenciar muitas pessoas que passam a ver estas festas com o negativismo frívolo que lhes é incutido por indivíduos inescrupulosos.
Nos conhecidos bailes-funk, que são a válvula de escape de muitos moradores de favelas, a concentração de drogas e do tráfico propriamente dito é muito superior que em qualquer rave. A diferença está na tabelagem. As drogas sintéticas, como o ecstasy, por exemplo, podem chegar à impressionante cifra de R$50,00 por unidade e o ácido, até R$500,00 por cartela; ao que uma trouxinha de maconha não passa de R$2,00. No entanto, isso não torna a maconha uma droga menos perigosa, visto que é também capaz de desenvolver a dependência em seus usuários, ainda que em um grau menor em relação aos sintéticos. A partir destas informações, é possível descobrir onde mora o jornalismo oportunista: também morrem pessoas em bailes de favela, e isso aos montes, seja pelo uso de drogas como por operações entre bandidos e policiais. Acontece que não vende falar da morte daqueles que ocupam o último nível das castas. Mais rentável mesmo é explorar, com bastante condolência e alerta, a passagem dos belos e endinheirados jovens que se entregam ao vício, tanto dentro como fora de raves. Mais interessante mesmo é que morram dentro das raves. A notícia vende mais.
Belas as lágrimas de crocodilo que a mídia em geral chora pela morte de Lucas Maioriano. Tão sentimentais quanto as que secreta pelas vítimas do tráfico, na favela ali ao lado.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Tua quadragésima revolução solar

Vais saber
Num dia, longe deste,
Todos os amores que tanto te dei
Apesar de todos estes teus gritos,
Tua relutância.
Na tua quadragésima revolução solar.
Verás
Que quando te repreendi
Não foi por mal, e sempre pensando no teu bem
Que todas as vezes que te disse palavras duras
Foi para amortecer tuas quedas
seqüenciais.
Na tua quadragésima revolução solar.
Sentirás
Toda a dor e dissabor que também experimentei
Quando deres a luz a alguém como você
Como és como eu
Tua quadragésima revolução solar.
Vais pensar
Em quantas vezes me deixaste aflita
Nas tantas vezes me encontrei chorando
Pelas agressões ditas
Quando te olhares a si mesma,
Tua quadragésima revolução solar.
Perceberás
O quanto fois pisando nas marcas que deixei pra ti
Quanto de mim que está em ti
Quanto ainda se revelará.
Na tua quadragésima revolução solar.
Vais pensar, e vais lembrar
De todas as nossas falhas, tão atreladas
Como o sangue meu, que também carregas aí dentro,
Tão dentro que não te dicernes mais onde estais.
Tua quadragésima revolução solar.
Aprenderás
Que velei tuas noites, todos os dias.
Que sofri com tuas frustrações
Que presenciei todos os teus momentos, ainda que no silêncio;
Ainda que quisesse falar.
Tua quadragésima revolução solar.
Te embevecerás
No momento epifânico em que te reconhecerás
Nua, diante do pior dos julgamentos: o teu próprio.
É quando o tempo te desferirá o mais forte dos golpes
Golpe da razão. Do amadurecimento.
E te doerás simultâneamente aliviada
Quando então todos os meus segredos te contar
A tua quadragésima revolução solar.

Para minha mãe.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Meu tributo ao homem - 40 anos sem Che

Pensar nele me apequena, me fortalece. olhos e coração apaixonados eram capazes de transpor, sinergicamente, todo e qualquer obstáculo, ainda que fraquejasse. Ainda que não conseguisse (ele também era composto de carne e sangue). No fim das contas, ele era apenas um mortal que uma morte brutal converteu em superceleste.
Não admito que arranhem a imagem do meu herói. Que tentem distorcer, deturpar toda a jornada de vida dele e vender sua imagem, numa completa contramão de tudo o que um dia ele pregou. Sim, ele era um homem, e os homens estão permanentemente sucetíveis a errar, muitas vezes em sua vida. Meu herói é um homem, não um santo; e é por isso que está em tão enaltecido patamar: por conseguir estabelecer o paradoxo exatamente entre a mortalidade e a divindade, aproximando-se dos humanos com a candura dos anjos. Meu herói é a fusão da temerariedade típica dos aventureiros com a feição que acalma as crianças. É entusiasta, é amigo, é irmão.
Num mundo que torce a verdade e consegue, quase sempre com um sucesso assombroso corromper a moral dos homens das mais variadas camadas sociais, o homem-tocha, centro da minha admiração, ergue-se do mar de desesperança com suas asas vermelhas, permanecendo incólume à adversidade, à batalha em continuar sendo puro; como a alva rosa que despedaça-se ao vento para evitar entregar-se lentamente ao inverno que a devorará. Poucos homens seriam capazes de grandiosidade tamanha, de uma ovação desta ordem. Sacrifício e reconhecimento são duas retas pararelas durante toda a vida daqueles que assim se doam, que interceccionam-se exatamente no momento do desencarne altruísta de um homem cuja aura iluminada ganha força, e alastra-se pelo mundo, encontrando seu lugar nos corações daqueles que não sabem, sentem. E, quando esta luz encontra seu lugar, quando sabe que é definitivo, nunca mais se apaga.
Meu tributo a este homem é do tamanho do meu amor por ele e pela sua causa. Um homem que está acima das críticas rasas que línguas bifurcadas e invejosas destilam do alto do mais elevado recalque. O homem que viveu em função do outro, que deu-se inteiro para provar a verdade.
Para Ernesto, cuja luz está em mim.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Campeões predestinados

O ser humano é naturalmente competitivo. Porém, qual surpresa é em dizer que essa competição já data de sua pré-história particular.
De repente, cópula. Mais de dois milhões de ágeis e efêmeros nadadores aventuram-se pelo escuro e escorregadio canal, do qual apenas um -três, no máximo - sairá vivo. Este é o exemplo mais primário da competitividade, ainda num breve e azóico momento do ser humano. Aqui, a competição já se fazia presente, antes mesmo da nossa existência.
Segue-se todo o processo placentário. E a mulher dá a luz a mais um pequeno competidor, que lhe reclama cobertor e alimento no primeiro instante dessa nova fase. Três anos depois, infância, e é imprescindível reiterar que é a partir daí que a criança começa a formular seus próprios valores, ainda que com uma visão muito frívola de mundo. Entretanto, estes valores são praticamente indissolúveis, e mostrarão-se fortemente atrelados ao consciente da pessoa, terminando por influir de modo lancinante, na vida adulta. Mas, voltemos à infância. O conceito de posse é análogo ao poder, de maneira direta. Você é estimado por terceiros por ter, e, conseqüentemente, é estimulado a atingir esse status - competição cruel essa, que amadurece já tão cedo, os mais tenros inocentes oom sua distorção.
Na adolescência e fase adulta, essa disputa é onipresente em qualquer sociedade; porém não deve ser encarada como individualismo, apesar de aquela acarreta neste. E é geralmente nas duas fases anteriormente referidas que a concepção pré-formulada sobre o assunto, lá na infância, finda por modelar completamente a psique humana, vindo à tona, acintosamente, pelo comportamento geral das sociedades apresentado há tempos homéricos.
A grande verdade é que o mundo é um imenso útero, no qual nós, desprotegidos espermatozóides, iguais em adversidade e uma minoria um pouco melhor em probabilidade estamos dispostos, de modo inteligente por uma força superior e muito além da mais elaborada compreensão. Sempre correndo, apressados, a fim de chegar pelo jeito mais veloz, nem sabemos bem onde; perdendo, na corrida, as impagáveis belezas do caminho. Todavia, a maior diferença entre o útero materno e o nosso planeta é que aquele é extremamente seletivo e acolhe, somente, um ou dois qualificados; ao que este é grande o bastante para abraçar-nos todos, embora o egocêntrico que existe dentro da maioria de nós queira sempre mais espaço que realmente necessita, nunca se dando a chance de ser acolhido na plenitude deste abraço.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Como será Frida

Frida é uma menininha que não existe. Uma coalização da minha mente e das minhas horas, de ócio quando estou só, e de amor com Jefferson. Frida, assim, Frida: minha filha hipotética.
Frida será de leão, com ascendente em áries. Terá os lindos olhos verdes do pai, os cabelos lisos da mãe. Viverá num lar onde o amor seja palavra de ordem; onde respeito, tanto pelos pais dela, quanto pelos demais, será a conduta máxima. Aos seis anos, Frida acreditará em duendes, fadas, sacis, coelhinho de páscoa. Para que privá-la do tão breve período de sua vida em que ela poderá ser ingênua, sem culpa? Com cuidado e limites, estimularei sua imaginação para que ela nunca deixe se levar pela leviandade do mundo; em contrapartida, serei a primeira a torcer pelos seus sonhos.
Quando minha filha atingir seus 11 anos, sentirei os temores de ser mãe de uma pré-adolescente; como dói adolescer. E o máximo que poderei fazer é inferir sobre as atitudes que terceiros tomarão em relação à sua conduta, ao seu caráter, com base na minha experiência própria. Paulatina e dolorosamente, Frida irá amadurecer. Ela chegará a seus 17 anos, e já terá uma certa maturidade quanto a várias questões, muitas das quais será instruída cedo, tanto pelo pai, quanto pela mãe. Frida será o produto meticulosamente conjunto de duas pessoas que se amam, e será exatamente a metade Ana, a metade Jefferson.
Discutirei com Frida. Ela vai me dizer palavras duras, que retribuirei, no calor da dicussão. Então, ela se trancará em seu quarto e chorará, copiosamente. Não nos falaremos, por dias, talvez. Ela vai aliar-se ao pai, quando isso acontecer, e vice-versa. Às vezes, se sentirá completamente sozinha no mundo, e experimentará a essência estranha do que é a escuridão.
Mas ela saberá voltar, pois, ainda que ínfima, haverá a chama acesa do amor que lhe trouxe ao mundo e nunca se esvairá de dentro dela.
Frida então terá seus 20 anos. Estará trabalhando, impossível dizer em quê. Ou dentro de uma faculdade. Fora do país, morando só. Ou ainda sob meus cuidados: impossível também calcular se ela nascerá sob condições normais. Acontece que Frida será a filha mais bonita, mais inteligente, mais maravilhosa e especial do mundo: será minha. Minha e de Jefferson.
Será a menina que vai mostrar que determinadas coisas vem pra ficar, que alguns nomes são imortais e imperecíveis. Frida será a razão que explicará os maiores mistérios do universo.
Frida é o amor. E o amor é a explicação de todas as coisas.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

A armadilha

Eu já cai. Você também. E nesta cíclica, todo o mundo cai. Quer um exemplo simples? "Olha só, como eu saí, até eu ri de mim". Chavões da propaganda, jingles inocentes, que estamos constantemente cantando, induzidos ao consumismo exacerbado, que tem por finalidade segregar e marginalizar, transformando classes sociais em verdadeiros pólos, cada vez mais distintos dentro da lógica capitalista. Pode não parecer, mas o que é tão embrionariamente involuntário representa a chave na economia das nações desenvolvidas.
A toda hora, somos bombardeados com toda a sorte de informações, que, por vezes se interceptam, se confundem e finalmente, se chocam no espaço real e cibernético. Este fluxo fleumático de informações nos assiste, por um ciclo vitalício, sempre a nos dobrar no cumprimento de sua vontade. Assim, fazemos publicitários estupidamente felizes e lhes concedemos plena ascenção, pois é do nosso deslumbramento que extraem seu ganha-pão, fazendo valer a máxima de Gobbels.
Entretanto, nem toda propaganda deve ser vista com tal negativismo, embora a exposição excessiva da maioria nos tente a julgá-las em uníssono. Afinal, o cartaz está aí pra lizer mesmo, como se estivesse vivo, no imperativo, "light my fire!". Cabe à cada cabeça estipular o limite, mas é aí que reside o leão. A linha tênue entre dominador e dominado tende a perder-se, em decorrência da falta de controle do ser humano frente a uma idéia tão sedutora. Saber dizer "não" é fundamental para que o público posicione-se sempre acima do apelo propagantístico, preservando, com esta atitude, sua identidade imaculada, e seu direito de escolha, sem as influências vorazes do meio externo.
Comprovadamente, o consumismo é o cancro que alguns especialistas julgam necessário para a regulamentação econômica e cultural do Estado. Todavia, é subjulgado ou intencionalmente esquecido o fato de que a demanda proposta atinge somente as classes média e alta, ao que a massa gorda que vive abaixo da linha de pobreza que olha pelo vidro tem, por direito, apenas este mesmo: o de olhar, sabendo que por mais que insista, dificilmente alcançará o patamar que almeja. E como o tráfico é maquiavélico e acessível o suficiente para esta classe, está justificado. Enquanto isso, eles sonham e alto, ao contemplar aquele lindo tênis na TV.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Inconsciente

Quantas vezes você, mulher, olhou para aquele homem estonteante na rua, que a olhou de volta, sem a real intenção de trair seu cônjuge? Algumas conservadoras irão se sentir no direito de crucificá-la, visto que esta sucetibilidade leviana pelo belo e proibido é minimamente condenável, já que vai de encontro ao pressuposto ortodoxo e homérico de fidelidade máxima na relação homem X mulher (sendo que é de responsabilidade feminina seguir isto à risca)
Do grupo das condenadas, então, hasteio minha bandeira em protesto: que visão mais barroca, esta! A natureza inerentemente nos inclina ao instinto da atração, e é perfeitamente normal que esta mesma atração esteja dissociada de nossos parceiros fixos. Sim, eu acredito na plenitude de um amor monogâmico e este não é um discurso feminista ou em prol da libertinagem sexual, da traição propriamente dita.
Acontece que, num dia inesperado, possamos nos encontrar aflitas por pensar copiosamente num homem inexistente ou que parece ter saído de algum lugar do passado para desestabilizar e assombrar o nosso relacionamento, dando margem à florescência de deliciosas e vulcânicas concupcências em nosso imaginário, cujo sigilo torna-se lancinante, conforme o pecado. E, por mais horrível que possa soar para os homens, esta é uma realidade corriqueira para muitas mulheres. Este flerte mental funciona como uma fuga inconsiente: é a canalização de todo aquele desejo represado, que transborda inutilmente na labiríntica psique feminina. Inútil é, porque não chegará à consumação, e é até importante para que a mulher em questão não se perca, não se esvazie com o passar do tempo.
É um modo quase involuntário de entorpecer o ego, valorizar-se, cristalizar a beleza e o amor próprios. Os homens são insensíveis e absolutistas demais para compartilhar desta visão, que não chega nem a ser liberal; mas, uma válvula de escape para as tensões rotineiras e os nós que só os massagistas surreais são capazes de desatar...

sexta-feira, 20 de julho de 2007

A gente não quer só comida

É estranho pensar na nossa vida sem um mínimo lazer. Sem bater pernas, conversar futilidades, por pouco que seja. Sentar em uma praça, despretensiosamente, e conversar, dar uma gargalhadas pra extravasar, talvez, aquele dia ruim. Mas, há algo de errado quando penso em mim e no meu momento de fuga da realidade. Por breve que ele seja, ainda que tão breve e tão barato, ele é um privilégio.
Imagina que você é um Mac Escravo Feliz. Ou aquela empregada da zona sul, que limpa com suor e sangue o pretume do chão dos seus patrões. Imagine que você é um funcionário honrado de alguma repartição particular, com uma jornada de treze horas de trabalho (acredite, existe isso ainda) e, ao fim de seu expediente, é liberado para a sua casa, onde, na sua pequena sala, descansa os pés assistindo a novela das 8. Será que é um favor que o governo conceda cultura à sua população? Não seria essa mesma novela, que entra pelos olhos involuntariamente abertos destes mesmos peões anônimos de modo vicioso, um ópio para terminar bem um dia absolutamente normal, para essa gente que se contenta com tão pouco?
Tá tudo errado. As pessoas se matam de trabalhar em suas vidas, tão individuais, para ganhar o suficiente para pagar suas contas. Para pôr o arroz e feijão, diários e imprescindíveis na mesa. Para comprar o produto de limpeza. Para manter seu feudo compactado organizado. Mas que porcaria de vida é essa? E qual o sentido dela, o que vem depois da janta na mesa, o que vem à cabeça de cada operário pela manhã que o motiva tanto para continuar uma rotina tão insípida?
Um povo pacato que se sujeita a tudo perde sua moral. O povo que se contenta com o mesmo de sempre vai ser sempre subjulgado pela mão pesada da repressão silenciosa. Vai vencer o crediário. Hoje não tem tutu. Um pouco com Deus é muito. E é nessa leva de chavões que o peixão leva, fácil fácil, muito mais daquilo que lhe é permitido levar: é através da mais consciente ingenuidade do alienado que muitos tiram muito mais da parte que lhe cabe, e como eu odeio isso. Como eu odeio saber do entretenimento barato, silenciador. Como eu odeio ouvir que hoje tem big brother, que a Siri, que o Alemão, que o raio que o partam. Como simplesmente não desce essa verdade, e quantos a alimentam e se alimentam dela sem saber que hospedam o inimigo nas costas e na cabeça. E que esse estorvo se faz presente a cada rejeição à cultura, cada repulsa a um teatro. Mas é natural. É de interesse maior, e por isso, se é induzido a crer que este seja, também, o da massa, quando ele está exatamente indo de encontro da mesma.
Você vai mesmo ligar a TV, aderir à multidão igual e entrar na estátistica do seu patrão? Dê-me licença, Gabriel, mas mude, pois quando a gente muda o mundo muda com a gente; a gente muda o mundo na mudança da mente, e quando a mente a gente anda pra frente, e quando a gente manda ninguém manda na gente...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Até onde a internet influi na vida do homem atual?

Desde os hieroglifos que o ser humano expressa o desejo de se comunicar com os outros de sua espécie e deixar o seu legado na história, buscando referência e reconhecimento. Para isto, o mesmo utiliza-se, até hoje, de legendas muito peculiares que o identificam na sociedade, difundem sua mensagem e o alicerçam, terminantemente ao que denomina-se aldeia global.
E com a intensificação cada vez mais massificada da internet, este processo ganha dimensões inapalpáveis, no que concerne à informação ou mesmo o próprio comportamento humano, em 'sites' de relacionamento espalhados pela rede. Mas, até onde é possível delimitar a influência que exerce a internet sob os homens, sob todas as esferas?
Em favor da aceitação social, muitos daqueles que se sujeitam à rede se desconstroem, física e psicologicamente, deturpando valores, num completo amálgama existencial. Já não dicernem mais o real do abstrato, acreditando no próprio conto, o que pode ser perigoso pelo fato de uma crescente esquizofrenia poder instaurar-se, alienando, deste mesmo indíviduo, sua capacidade de relacionar-se em uma comunidade real.
Obviamente, não são todos os inseridos no mundo virtual que partilham desta mesma visão, até porque também não são todos que participam dessa inclusão tecnológica. A internet também é altamente excludente, sob estas entre outras considerações não citadas. Acontece que vive-se sob um jugo subcutâneo da propaganda positiva sobre a rede que, de tão intrínseco, torna-se quase imperceptível que se notem, também, seus males. De modo sutil, somos induzidos a pensar num maravilhoso universo, onde tudo é possível, quando de fato este é um dogma do mundo moderno e capitalista meramente contestável.
A internet, pela sua abrangência, está fora de controle. Não há filtro algum na mesma para a exposição de imagens, informações, materias de qualquer espécie. A internet pode ser uma aliada excelente em termos de conhecimento, a era 'wikipedia' é agora. Mas também pode representar a aculturação individual da pessoa que se deixa levar pela sedução de encorpar a massa 'cult' que representa essa camada dentro de nossa sociedade. A dosagem daquilo que se lê é fundamental, pois equilibra a estrutura e o pensamento de seu criador, que, em certos momentos, parece ter sido subjulgado pela própria criação.

A pirataria e sua dicotomia conjuntural

>>> A questão da pirataria tem nos tempos atuais tem um lado controverso. Quais as possíveis iniciativas para neutralizar os danos causados?

A pirataria é, hoje, um assunto em voga em termos de comunicação. Os grande núcleos empresariais e distribuidoras cinematográficas vêem nela uma concorrente em potencial, disputando o mercado devido à facilidade na adesão de tais produtos. Em contrapartida, a pirataria gera milhares de empregos no setor informal, sendo estes, a renda de incontáveis famílias que lutam silenciosamente por uma mínima ascenção, ou mesmo posicionamento social.
Várias alianças e conjurações das grandes corporações de mídia abrangentes no país são efetuadas, a fim de retaliar ou represar as atividades de pirataria, bombardeando-nos com numerosas campanhas publicitárias em defesa de seu propósito. Tais campanhas ganham ainda mais força com o apoio indireto do conhecido grupo de fiscalização "o rapa", que, em sua operação, confisca os produtos falsificados com destino ao consumo público.
Entretanto, a apreensão dessas mercadorias acarreta no embargo laboral destes comerciantes; que extraem desta prática, o seu sustento e o de suas famílias. Certos artistas também defendem a pirataria, alegando que ela possa ser uma via mais acessível na difusão de informações de importância considerável, fora de entretenimento então disponíveis restritamente às classes de maior poder aquisitivo.
Uma solução para a contensão da pirataria ainda é uma questão a ser exaustivamente estudada, vista a facilidade da profliferação dos materiais falsificados e os mecanismos para burlar as alfândegas, utilizados por aqueles que fazem desta, um meio de subsistência. Novamente, por mais bem elaborada que seja a medida adotada pelas autoridades a fim de combatê-la, a circulação ilegal de determinados produtos é crônica e, dicotômica que é a situação, é impossível haver consenso entre ambos os lados.

Os desafios de uma comunista de 18 anos

Chego à sala pela manhã, no curso. Meus pés cansados, meus olhos involuntariamente abertos. Repouso minha mochila suja na cadeira da frente, pego meus cadernos e canetas. Ouço um amigo falar do acidente aéreo em Congonhas; também manifesto meus profundos pêsames. Cada voz, uma versão. Prefiro não entrar nesse mérito, por enquanto.
O professor começa a ditar, a aula é história e o tema é bipolarização mundial e suas conseqüências. Gosto de entrar nesses temas e, sempre que possível, fazer alusões hodiernas em relação ao mesmo. O professor cita capitalismo X socialismo. Meu lado comunista começa a falar por mim, natural. Então meus colegas de classe começam a zuar, falando que, embora o socialismo seja, sim, um sistema demagogicamente bonito, ele é iniviável. Repasso, dizendo que é o pensamento individual-capitalista que nos induz a pensar exatamente assim. E fica naquele pingue-pongue.
Volto pra casa, algumas horas depois. Ao chegar à rua da minha casa, há um movimento na mesma. Olho para um lado e para o outro: a tocha olímpica vai passar. Vou andando, devagar, em direção à minha casa, quando, espreitando perto do portão, estão minhas duas primas e meu vizinho.
Ficamos conversando no portão, quando chegam dois amigos delas.
_ Ai... isso aqui tá um inferno hoje...
O amigo concorda com a menina:
_ Tá mesmo.
Ela:
_ Só gente feia
Calo. Ela, não:
_ Esse calor, essa gente feia, esses pivetinhos de colégio público... Caxias é só derrota!
_ Porque você se incomoda tanto assim com os "pivetinhos de colégio público"? - quebro o meu silêncio por insuportá-lo.
_ Ah, fala sério! Bando de gentinha!
_ Se eles fossem do PH você se importaria tanto assim?
_ Se eles fossem do PH teriam nível.
_ Nível? Defina nível.
_ Educação, boas maneiras. Resumidamente.
_ Acho que vivendo à margem da sociedade, em condições precárias, a pessoa só aprende a reproduzir o meio em que vive. E, não que não exista o contrário, mas nesse meio, o predomínio da má-educação, das boas maneiras, da gravidez aos 13 é muito comum. É quase cultural.
Não agüento mais ouvir o que ela teria a dizer e subo as escadas da minha casa. Entro no orkut e no msn, fico alguns minutos; o suficiente para ficar de saco cheio com o papo fútil dessas galeras. Um ou outro conversa sobre um tema mais relevante.
É bem difícil ser comunista aos 18 anos. Bem difícil, mesmo. A impressão que tenho é que estou nadando contra a pior correnteza. Mas quer saber? Prefiro morrer afogada a viver sem pensar por mim mesma.

domingo, 8 de julho de 2007

Minha estranha fixação pela nudez

Fato, todos nós nascemos nus. Nus, assim, desprovidos de qualquer adorno que à nossa pele cubra; coisa divina, essa de nascer nu. E essa nudez nos acompanha todos os dias de nossa vida tão barata e passageira, sempre ali, por debaixo dos medos, e da pele, e dos cheiros. Nossa nudez é a testemunha de que, dentro de cada um, reside um corpo, um corpo cálido, cheio de sinuosidades particulares, que, independente de agradar-nos ou não, existem, e, por mais que tentemos removê-las, utilizando-nos do advento das plásticas e reconstruções, estarão sempre ali, num peso irreversível denominado memória.
Não sei quanto à você, mas acontece que eu sempre gostei de ficar nua. Desde pequena. Pode soar estranho, heterodoxo, repulsivo: mas é quando me sinto livre e, tal qual anfíbio, quase respiro pela minha pele quando meu corpo encontra-se totalmente despido. E acredito, piamente, que essa sensação tão benéfica devia ser um estado coletivo às pessoas. Encontrarem-se dentro do espelho, nuas, auto-analisando-se, meticulosamente, em cada pinta, cada manchinha ou sinal; cada marca. E rir, despudoradamente, sem vergonha, afinal, o corpo humano é uma dádiva divina que somente nós temos o privilégio de usufruir.
Obviamente, nudez não é o mesmo que vulgaridade. Há nudez e há nudez. Aquelas, expostas cheias de entrelinhas de mau gosto, numa revista de baixo calão é apenas na promoção da propaganda; logo, o encanto é facilmente desfeito. Ou então, sair por aí com roupas mínimas, novamente agredindo rispidamente a beleza desse segredinho que é tão sacro a cada um: nosso corpo. O corpo nu não devia ser tabu, mas, é devido à malícia involuntária de uma sociedade imatura que esse mesmo tabu não deixa de existir. Pois, as linhas humanas despidas deviam é ser apreciadas, delicada e vagarosamente, (claro) pelos eleitos. Manuseadas com a leveza que se toca uma flor rara e aspirado na construção de grandes obras de arte.
O corpo é a legenda dos homens. A nudez é o que os devolve; ora ao pecado, ora ao divino.

sábado, 7 de julho de 2007

Visões

É estranho, para mim, ver o futuro sob uma ótica pessoal. Não consigo ver nem viver num mundo onde eu seja a prioridade, a essência, o umbigo. E é a partir desta premissa que não acredito nesse sistema falacioso que respiramos, seja pela televisão, pelo rádio, pela internet; meios de comunicação, enfim. Acho feio, fútil e fraco esse consumismo mordaz, que alguns chama de capitalismo; que é quase um sinônimo para a indiferença homem X homem, ainda que um deles esteja morrendo de fome. Acho desprezível que algumas pessoas simplesmente não se importem com a situação que vivemos, esse mundinho cada vez mais individualista, cujas pessoas são, no fundo, somente alpinistas aventureiros sozinhos, isolados; crianças tristes, de modo que justifiquem sua caçada ao fim do arco-íris como "vida". Meu Deus, quero que minha vida seja mais que uma aventura no espaço. Até onde eu pensava, viver era abraçar os outros e tomar suas chagas, como se fossem nossas; viver era desmesurar, romper a linha do lógico e, se possível, se entregar a uma causa. Porque a vida não vale nada se você não tem uma boa história pra contar; e perde sua essência pelo caminho se você não se imortaliza no olhar daqueles que conheceu. Se você não se cristaliza na saudade daqueles que encontrou.
Pretendo fazer da minha vida, mais que o curso normal das coisas. A minha intenção é mudar, mexer, saber, de alguma forma, nunca entregando-me à estacidade e ao remorso por não ter feito. Quero ouvir mais os pássaros, por isso, cuido da natureza. Quero receber mais abraços, por isso, preservo as amizades antigas e construo as novas. Quero que o amor que hoje tenho de um homem incrível nunca se perca, por isso, apesar de todas as falhas inerentes enquanto humana, tento fazer com que ele saiba, todos os dias, o quanto o amo. Quero cuidar deste mundo, e porque não, de você também.
Basta me deixar entrar.

Beijos a todos.
que lindo, acabei de criar um blog!!
bom, como eu não tenho muito o que postar, além de estar com sono, deixo essa parte para depois...
beijos aos que ficam...