segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Tango cego de mãos

Mergulhou os dedos nos cabelos dele. Havia um estreitamento irrespirável entre suas costas, seu tórax e a outra parede, à frente do banheiro imundo, mas lá tudo se deu; sem explicação, sem motivo. Que esperar de dois bichos sedentos que se encontram no uivo da lua? O choque do desejo e da acidez, o confronto do reflexo da luz naquele material niquelado em seu anelar com a ereção daquele homem que ela mal lembrava o nome. Era Mário? Era Mauro? Ou Luís, quiçá?

O homem a beijava com violência, com saliva. Seu pescoço estava pegajoso do sumo que ele emanava pela língua, ela entranhava as unhas nas costas macias que ele tinha, "Para com isso!", ela tentava. E a velha dicotomia entre o certo e o errado era pouco a pouco sorvida pelo suor dos dois. A consciência lhe fisgou, seus mamilos tremeram. 'Pára, pára!'; ao que ele, numa atitude súbita, deu um inofensivo tapa em seu rosto. 'Calla-te!'

Foi quando ela se deu conta de que ele era argentino. Ou cubano? Tudo o que ela tinha em mente era apenas que aquele moreno saído de lugar algum havia chegado para lhe virar o juízo. Num brusco movimento, ele lhe arrebentou dois botões da blusa branca, e deu com a língua em seus seios. Não demorou-se lá. Ambicionava por trunfo maior, e desceu esse músculo incandescentemente voraz pela sua cintura, abocanhando seu umbigo. Ela se escorava nas paredes; apertava os olhos. Uma franja molhada caía sobre sua testa, teimava em se instalar entre o suor das suas linhas de expressão delirantes. Ele abriu com pressa o zíper do short dela, e na hora de despi-la da calcinha, arranhou-lhe as coxas.

Abriu suas coxas e devastou seu sexo com a língua, pesada, rápida e cheia de força. Revolucionava seus olhos com o movimento circular contínuo que arrasava a moça de cima a baixo. até o último pêlo do corpo. Ela se sentia fluida, suja, plena. Quando abria os olhos, dicernia mal a geometria estranha daquele ambiente. Bruscamente, puxou os cabelos dele, esfregando seu rosto em sua vagina. Ele agarrava suas coxas, mordiscava o pequeno pingente de carne dela, enquanto a moça emitia débeis sussurros e sons na escuridão.

Ela trouxe a cabeça dele à sua boca. Beijou-o; seu beijo tinha o seu gosto ácido e quente. Ele tomou-lhe o magro pulso esquerdo e virou-a para a parede e tratou de esfolar dentro dela seu membro, que urrava de vontade. Ela sentiu-o. Ele puxava seu cabelo com voracidade. 'Me dá seu puto'. 'La putana, la putana!'. Ela contraía todos os músculos do rosto em características expressões que a todos é comum na hora do sexo. Ele a pressionava, lambia sua nuca, apertava sua cintura. Ela gritava. Ele a calava com seu grande indicador.

'Puta que pariu vô gozar! Mete com raiva seu merda!' Ele não precisava entender português para compreender sua linguagem. Ele então derramou, junto com ela, o viscoso líquido que confirma a existência. Ela estava anestesiada pela culpa, pelo prazer, pela cocaína. Ofegantemente respirava. Ele fechou o zíper e abraçou-a; ela se sentiu sufocada naquele abraço, não entendeu, se perdeu ali.

Atordoada, pensava em Maurício, o noivo. Maurício, o noivo. Maurício, o noivo. Maurício, o noivo. Arregalou os olhos, não devia ter feito aquilo. Maurício, o noivo. Maurício, o noivo. Queria que um banho gelado. Maurício, o noivo, Maurício, o noivo, Maurício, o noivo, Maurício, o noivo. 'Maurício!' '¿Que pasa?'

Arrancou da bolsa um canivete e varou seu ombro esquerdo. O sangue pulou como gêiser. 'Hija de puta!' Ela correu assustada. Pra longe, enquanto ele gritava-lhe ruidosas ameaças. Ela continuou a correr, cada vez mais rápido; os saltos sem concatenar com os pés, com os passos. Caiu no asfalto da rua acima. Ergueu-se, correu mais: queria fugir de si.

Ela então tomou um ônibus. Sentou-se na última poltrona, abaixou a cabeça e começou a chorar.