domingo, 10 de abril de 2011

A formiga no espelho

Não desvie. Não esbarre. Não deixe cair o que se porta. Mantenha-se na fila. Acima de tudo, respeite a esteira. Respeite a seqüência. Respeite a ordem. Respeite o programa. Respeite a cadeia. A cadeia é segura. A prudência protege. Não subverta. Não insurja.
Não pare. Trabalhe, trabalhe, trabalhe.
Diga obrigado. Diga por favor. Diga com licença. Seja cauteloso. Zele pelo bem comum. Não olhe nos olhos da outra formiga. Não olhe além da linha. Cumpra prazos. Comporte-se. Respeite o perímetro do seu passo. Obedeça. A colônia é cada pata que se movimenta. A colônia é a marcha lenta e silenciosa dos dias. Seja o funcionário do mês da colônia. Você é a colônia. Mas se você morrer, a colônia ressuscitará nas patas da sua prole. Porque a colônia não pára.
Você é substituível. Você é dispensável. E não. Você não é substituível. Você não é dispensável. Você, você. Mas não diga isso para outra formiga, e para outra, e para outra. A colônia é sua mãe. A colônia é seu pai. Você nasceu nela e vai morrer nela. Você nasceu por ela e vai morrer por ela. Respeite a colônia.
Lave a cara. Abra os olhos.
Trabalhe, trabalhe, trabalhe.