terça-feira, 3 de agosto de 2010

Manifesto do homem medíocre

 O homem medíocre é suas roupas. Seu carro do ano, seu I-Phone, seu apartamento de frente pra praia e sua voz sobre as outras. O homem medíocre chega ao trabalho, se senta na ponta da mesa, enquanto divaga dentro de uma sala que é pouco menor que o seu umbigo, para uma meia dúzia de outros homens medíocres que ficaram cadavéricos de tanta informação. O homem medíocre se parece com outro homem medíocre, e quando olha pra ele, se reconhece.

 O homem medíocre é, assim como esse medíocre texto, repetitivo. Foi, um dia, crivado de sonhos. Quem saberá? Mas agora é só mais uma estátua em sua sala de estar decorada por um alemão que é o último nome em design. O homem medíocre tem bons hábitos. É ponderado, tem boa educação, bom vocabulário e provavelmente até boas fezes. Fez alguma dezena de testes vocacionais para finalmente se encontrar em empreendedorismo e é adepto das grandes novidades. Está trancado em sua pequena corte de Versailles enquanto lá fora estouram mil revoluções das quais permanentemente se abstém, ou mesmo nunca ouviu falar. O homem medíocre é um robô de lata nos pântanos da modernidade.

 Costuma agradar-se irrefletidamente daquilo que o níquel reflita. O homem medíocre é uma erva daninha que pode se dar em todo e qualquer lugar. O homem medíocre almoça oxigênio e arrota fois gras. Transita em ambientes que lhe são de todo estranhos, não fosse sua ambição para ascender na escala da mediocridade. O homem medíocre muitas vezes se envergonha de onde veio.

O homem medíocre não veio pra brincar. É possível que desconheça essa palavra. Não afrouxa o cinto, nem o suspensório, nem descontrai a mão. O homem medíocre está bem-casado e recorre às putas que vão coroá-lo, porque ele pode pagar. Não franze uma sobrancelha de preocupação para com qualquer outra coisa que não orbite necessariamente em torno dele. O homem medíocre está disperso dentro de si.

 A vida do homem medíocre termina como se nunca houvesse existido. Porque um homem medíocre não imprime lembranças nas pessoas. Sua presença é esquecível, sua pertinência é contestável; ele é um oco onde se bate e se encontram as traças, dormindo de barriga cheia.

 O homem medíocre é um eterno desatento. Ambiciona, e então corre. Está correndo, mas pra chegar a lugar nenhum. Ele está em desencontro com as coisas mais bonitas, anda em círculos orientados por sua bússola nasal. Tem uma grande debilidade em nutrir sentimentos profundos, porque não se liga, porque não se liga. Assina cinco revistas diferentes por mês e, com as notícias que lê, também limpa seu cu.

 O homem medíocre passa longos minutos do seu dia contando dinheiro. Seja em notas de dez, em notas de cem. É alheio às flores que estão trancadas do lado de fora de sua janela de vidro, ao sol teimoso que vai nascer, aos gritos de socorro que escuta de si mesmo e dá de ombros.

O homem medíocre é uma criança de olhar perdido num velho retrato.

Oi, gente!

Tô voltando, depois de um tempo ausente. Sim, ausente por opção. Por opção à não-pensância, ao ócio voluntário, às longas horas olhando pro teto sem fazer nada. Venho com cinco novos títulos fresquíssimos, mas não prometerei nada por enquanto porque tenho problemas com prazos, mesmo quando eles são de mim para comigo mesma. Então, vamos. Me dá o seu olhar que eu te dou as minhas palavras.
Mas pisemos devagar, devagarinho. A graça está, também, na malemolência desse se-dar derramado feito mel.
Derramadinho.