Apesar de não ser a maior fã de ficção noir, sempre achei interessante a atmosfera investigativa, e por esse motivo, passei a ler alguns artigos ligados a cyberpunk. Me surpreende a criatividade dos produtores do gênero, porque é preciso ter uma mentalidade fértil para engendrar boas tramas noir, afinal, não se constroem figuras folclóricas como Sherlock Holmes tão out of the blue assim. Por conta disso, Asimovs e Fawcetts do mundo já estão na minha listinha do que ler nos próximos meses.
Há tempos imemoriais eles despertam paixões, porque as pessoas são naturalmente curiosas. E que bom que o são: a curiosidade é a mãe das descobertas. Me recordo de uma grande amiga me dizer, em tom confissional, que o pai era um detetive de verdade quando éramos crianças. Disse ter encontrado uma arma numa de suas gavetas, entre outros artigos que não pôde compreender. Dá pra imaginar o efeito disso - somado a todo o folclore em torno do assunto - na mente de uma criança?
A simbologia desse universo tem um quê proibido que assusta e convida. Ruas escuras. Um tiro seco. Uma mulher que sabe demais. O detalhe distintivo numa evidência. Um suspeito que corre - ou seria uma vítima? Nuvens de nicotina e bolos sujos de dinheiro. A undergroundização desse estilo tem tantos adeptos não é a toa, mas, observando bem esse retrato, debruço a lupa da minha curiosidade sobre um elemento que não consigo encontrar.
Por onde andam os detetives?
Figuras tão emblemáticas quanto Poirot e dona Jill Munroe de loiros cabelos encascatados, por detrás de que sobretudo vocês estão? Até os anos 90, era muito comum a menção a esses personagens cujas existências duplas povoavam o imaginário coletivo com teorias mil. Mas parece que a aura misteriosa que os catapultou ao status de ícones de gerações acabou por fazê-los submergir na mesma; denso mergulho na escuridão das esquinas do ostracismo.
A verdade é que eles desapareceram. Ganharam novos endereços, novos ofícios, novos nomes, estão bem aposentados pelos muitos anos de serviço prestados à brilhante imaginação humana. Não são mais reconhecidos pela indumentária dicktracyana e sua perícia perdeu o charme rudimentar de mitos como Basil da Rua Baker. Quem teve infância entenderá.
Pode ter sido a internet a grande responsável pelo sumiço desses investigadores, já que, por meio dela, é possível vasculhar, sem muito trabalho ou estudo, todas as vidas que uma pessoa pode ter. Fazendo uso dessa ferramenta, o glamour que existia na precisão do instinto para farejar rastros do que podia variar de um pequeno deslize de conduta de um marido a um grande golpe corporativo foi reduzido, desmitificado. Talvez por isso a banalização de determinadas funções possa implicar na sua extinção.
Tudo o que sei é que eles andam bem escondidos por sobre essa cortina de escombros e paetês pós-moderna. Proposital? Talvez.
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