Tantos dizem da beleza passageira
Beleza que é presságio
Do que da superfície não adensa
E que fica sempre suspensa
Beleza, a grande rainha do mundo,
Desde Homero saudada por todos os povos
Dona das reverências mais sinceras e desesperadas
Tantos dizem da beleza, com a beleza, pela beleza
A beleza nunca acaba: se transforma
Como muda o gelo a própria forma
Em cristal líquido se converte, mas mantendo o seu sentido
As suas paredes, a sua estrutura, a sua composição
A beleza nunca se dissipa: se multiplica
Se metamorfoseada em novas belezas
Vai ocupar novos corpos e novos tempos
E deixar pelo caminho elegias mais inspiradas
A beleza nunca morre: ela fica
Ela se recusa, e se debate: beleza não há quem prenda
À beleza caprichosa bálsamo, flor, oferenda
E mesmo enquanto objeto
Dentro de dois olhos não se comporta, mas explode
De tão plena
Absoluta, vibra entre as imagens, e se reverbera
Produzindo ecos próprios no corredor do tempo
Alia-se ao poder - flerte tão antigo -
A beleza deita, inerte, o mais irascível inimigo
Cochichos e falas miúdas
À beleza não atingem
Não sabem é que ri, a beleza,
De toda maledicência:
Sabendo-se maior que a pequenez do descrédito
A beleza com tédio atira
Pequenos dardos à grande pira
Tantos dizem da beleza passageira
Danada em si, tão sorrateira
Beleza despudorada e faceira
Ao que a própria ignora, solene:
A ingenuidade e a maldade com os homens caem
florescendo em verde grama;
A beleza é perene
A beleza é perene
A beleza é perene.
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