segunda-feira, 29 de maio de 2023

Pequenas Notas sobre o Igor

Gosto como o Igor se utiliza de adjetivos inusitados pra descrever unidades de medida, por exemplo. Uma colher de plástico pequena, na boca dele, torna-se "interessante".  Na boca dele, aliás, nada parece desperdiçado: tudo tem uma função, um porquê. Gosto de como Igor brinca com possibilidades silábicas criando palavras novas, e não que ele seja o primeiro a fazer isso, mas as palavras dele são dignas de popularização: revesfrengo mariolete, pacolalafágrigo, ximbirra; a graça é o costura-descostura. É um self-service semântico: pegue uma e aplique-lhe um contexto. Atesto: vai servir. (É claro que, segundo o mesmo processo eu já ganhei vários adjetivos, mas sobre isso vocês não precisam saber). 

Gosto de ver a sensibilidade do Igor onde é inevitável: seja sua opinião sobre a textura de um caldo, ou quando uma situação envolve as finíssimas camadas das relações interpessoais. Sob o risco de não parecer sincero o bastante, Igor prefere o silêncio. Talvez seja mesmo coisa dessa gente de maio, que observa mais, absorve menos. Para uma deglutição lenta: quatro estômagos.

Gosto de ver o Igor dormindo, pesado feito o esquecimento e leve tal qual a consciência, como quem confia naquela hora em que o corpo se entrega à toda vulnerabilidade que pode. Gosto como Igor confessa quando não tem certeza. Pessoa muito lógica, Igor não se sente constrangido ao revelar o que não sabe, não fica procurando circundar, com argumentos imprecisos, algum assunto que não domine só pra não se sentir excluído ou defasado sobre ele. Nem sempre é indispensável estar por dentro de tudo. Inclusive, gosto como Igor lida com a solidão.

Acima de tudo, gosto de como o Igor não me dá tudo o que eu quero, porque me obriga a repensar meus quereres. Quem tem tudo o que quer, ao tempo e à hora, acaba sendo mimado por desejos pobres, mal construídos. E a verdade é que estamos nos livrando de incômodos e desafios cada vez mais cedo por esse motivo. Por não me dar tudo que quero, Igor me dá o benefício de desejar melhor.

Gosto quando o Igor tenta rimar. É sem sucesso, mas pelo menos é engraçado. Falando nisso, Igor sente muita cosquinha, mas antes que isso seja usado contra ele, ele parte pro ataque. (Hoje acho que isso pode ser análogo aos seus sentimentos também, mas esse é um segredo bem guardado). Gosto de testemunhar o Igor aprendendo algo novo.  Desconfiado, é como se ele se recusasse a aceitar algo de primeira, precisando ser convencido daquela verdade. São tantas as particularidades do Igor que é fácil me estender, o que faz com que seja difícil escolher o que mais gosto sobre ele. Mas acho que me decido assim:

Gosto da maneira como o Igor aumenta a minha curiosidade pelo dia seguinte. A curiosidade é o melhor avesso da ansiedade. E estar curiosa pelo dia que vem é o que me deixa em paz com a vida.

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