quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

É o que é

As cinzas do mundo no canyon de prata
enquanto ora aos párias e às putas
mais a história que pulsa
que a história que passa

Ao capricho lunar,
bom animal
ora se encolhe, itabirana
ora se levanta, marciana.

o corpo todo é boca
e também é monstro:
os braços de pérola,
as pernas de alcatrão

Seu altar é de acúmulo: rostos e espelhos
-- inevitável a vaidade enquanto virtude --
faz miséria do afeto pouco
não se demora em lugar pequeno

Vulva inteira em negação
Onde não cabe é na casa,
na cozinha, no chá de domingo, na sala de estar
na fazenda longa de remendos das roupas
do homem que não vai voltar

Tantas as terras pisadas por seus pés
mas, leves, fincaram raiz não
menos ainda renderam frutos:
bens maiores foram outros.

O elmo loiro em sua cabeça
conta, quase discreto
é a última guerreira
duma linhagem que finda nela,
que responsabilidade.

Guerreira só
conhece a lança, a flecha, a palavra
as muitas palavras vivas e mortas
porque os bens maiores foram outros:
o mundo sabe seu nome
ela abre todas as portas

Medo secreto das despedidas
O queixo altivo toma em lugar
De si sua própria gangue,
não dói o mesmo ferimento aberto por cinquenta anos:
As verdadeiras vikings não têm medo de sangue.


Para Elke Maravilha
obrigada por aquela tarde.