os crucifixos brilhando sobre as encruzilhadas da cidade
o trem descarrilou ao norte
sob um sol de quase quarenta graus
uma pipa agarrada na fiação do dia 01
as crianças na rua discutindo o que de longe
vira outra língua
(não é o pasteurizado de vozes, de fato,
a língua dos anjos
que língua é essa?)
religiosidade, se os santos do dia anterior
ainda voam nas ruas
estranhamente normais, e vazias
dizem do epicentro
que é nele sentido a maior descarga
de dor
uma mancha de homens coloridos abarrota as centrais
seus uniformes e olhares
espirais
e um aspirar preso nas bocas por sob
o suor dos buços
passa um outro homem e rompe a marcha e na mão dele
amendoim dois é um real e pra quem gosta de doce,
kitkat
no sorriso obrigado dos dias,
troco.
a paleta variada das rodelas já gastas
à infinita pressão do tempo tão logo se despedaçam
nas pilastras, nos postes, nas bancas de jornal
nas camisas não-lavadas, no teatro municipal
uma mulher recosta os cabelos crespos
no vidro do ônibus
com os pés equilibra
uma bolsa puída
guardando as cores de mil esmaltes
na cabeça equilibra
mil problemas
a viúva negra
no dia das bruxas
foi levada a inquérito
enquanto há calor nas areias das praias
matebiscoitogloboaplausosarpoadorttburguerfacebookgarotasdeipanema
já se fazem especulações
das próximas fantasias de carnaval
religiosidade, se os santos do dia anterior
ainda voam nas ruas
se os crucifixos machucam
as encruzilhadas
com toda a sua luz
cristo vive
o homem reina
amém?
indiferentes e plácidas
as flores vadias nas árvores mal cultivadas
dos canteiros urbanos
arrebentam no fim da primavera
aos olhos de ninguém.
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