A vista turva
de borboletas explosivas
em cada choque
chuva de asas
Debaixo das idades
do meu umbigo
é por onde ando e sempre andei
Meu corpo me sabe antes
bota um viço em minha boca
o viço molha as ideias
Na intermitência do mundo
um céu todo negro
sob a carne grossa do olho
na revoada da vista
estou sentada na pedra
dura
pérola do mar na beira
e fico vendo a lua
ganhando a matéria da cor conforme gira a terra
me toma pelo braço o chão
sem que eu caia
- não,
me toma pela mão, elegante,
e segura meu dorso,
me desce dessa nuvem de pedra
agora, o corpo já todo mina
água pura pelos poros
cristalina
eu descuidei, entrou ela
a serpente cheia de esporas
desmedida e sem medo
de perder sua unidade enquanto
no sul de meu tronco se espalha
e me cavalga toda
cada repuxo de seu rabo
um lanho dentro
das minhas coxas queimadas
por si mesmas queimadas
rastro negro das carnes que se mordem no calor - ai, carnaval!
dois peixes tão iguais em grandura
se destruindo, vermelhos galos premiados
aquário, cemitério
há penas
bolhas
me alcança a cabeça
essa esfinge, que dona
nada me pergunta
manda
e se me manda pensar
eu penso
e se me manda cuspir
eu cuspo
desfolha meu peito atrás do músculo
busca facínora pelo ápice da vida
-agora!
-sim senhora!
no caminho (da volta)
morre muda, me despossui,
abre qualquer porta por onde sai
arrastando o rabo evanescente
retorna ao nada donde veio
no entanto, jamais lhe penso aniquilada
por hora ausente, jamais aniquilada
estando sempre
à pequena distância de um discreto chamado
quando me sento
na minha doida língua
do diabo
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