terça-feira, 7 de julho de 2009

Dejavúnico

Este é um relato dejavúnico. Vô logo avisando. É como se eu já o tivesse visto, e aqui está ele mais uma vez, se reproduzindo em mitoses sem final. No entanto, há sempre uma quebra em sua linha, que o torna distinto. DejavÚNICO.
Acontece que tô estressada. Mas tão estressada que nem 15 mil terapias em plena Kho Phi Phi me trariam a paz, essa endemoniada e impossível criança. Andando pela cidade e alimentando cânceres silenciosos, aí vou eu. Do alto da minha pobreza físico-intelectual e de um salto que me machuca; grilhão metafórico do meu caminhar rápido e pesado.
Lamentando minhas agonias, que não saem de mim tão facilmente quanto a fumaça que vomito pelas narinas. Perdão, Jefferson. Perdão, Adriano. Perdão, estratosfera. De repente, a estação. E mais de repente ainda, um assalto. Um assalto à minha culpa pequeno-burguesa sobre a exclusidade da dor. Um cadeirante debil mental mija nas calças, desamparado, envergonhado, mas não sozinho: uma louca cruel faz troças de sua incontinência, e, mal desconfia ela, me sinto tão ultrajada e ferida por saber que a debilidade física do infeliz é a figurativização do meu desengonço interno. Meu despercebido desajuste.
Unhas roídas. Estresse. Estresse. Unhas roídas. Cíclica do caralho. Tenho certeza que meu corpo é uma fábrica secreta de puríssima cocaína, muito mais forte que a colombiana. Hoje não há nenhum viajante a meu lado, todo mundo parece estar sangrando por dentro de alguma forma, e eu sinto isso porque esse sangue esguiça dos olhares desconfiados das pessoas diretamente nas maçãs do meu rosto. Saculejo no bonde mágico, que hoje me parece só mais um ordinário e enfadonho ônibus até Niterói. Mas é bem no início da ponte que um dos maiores deuses se mostra. O universo, e só ele, me beatifica com imerecido e singular presente: uma lua, madurinha de tão laranja, que nasce sobre as águas feias da Guanabara, colorindo-as de branco por onde a luz se espalha. Penso: será mesmo que tenho motivos pra reclamar da vida? Será que sou mais uma ingrata? Não. Certo que meus problemas se amiúdam diante daquele cadeirante, a ponto de me fazer questioná-los; mas será que eles somem? Não. Eles estão aqui. Depois da bênção lunar, de um encontro inusitado com uma amiga, se aquietam. Assim como a dor e o pânico não são exclusivivamente meus. Tudo permanece guardadinho, como já dizia Raul, que tudo tá na merma coisa, cada coisa em seu lugar. E certas coisas esperam pra se mostrar. Esperam a hora certa de sair.
Meu dia termina ao som (mental) de The way to Kundalini, dos Monges Budistas. Enquanto eu espero por dias mais amenos.

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