sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Montanha-russa


Ela começa a subir, lenta e progressivamente, num movimento retilínio uniforme. Conforme ganha altura, cresce a tensão em mim, acentuada pelo ruído das suas engrenagens dando com os dentes uns nos outros. Daqui de cima dá pra ver bastante coisa, a vista parece ter expandido ou o horizonte parece maior, enquanto o céu está ao alcance dos dedos. Não sei.
Ela pára. Atrás de mim, os outros passageiros do vagão começam a gritar euforicamente, entre uma criança e outra que chora. A cena se congela assim por uns dez segundos, tanto para que se aprecie esse mirante quanto para potencializar a taquicardia na seqüência. Em seguida, o "crack" avisa que agora ela vai descer.
Quebrando numa curva bem fechada, ela furiosamente abocanha os primeiros trilhos para então mergulhar na queda livre que provoca, mesclando medo e exitação, aquela sensação absurdamente deliciosa e única que se derrama inteira sobre cada nervo do corpo em adrenalina, e só quem já experimentou sabe do que estou falando. Eu estou no primeiro banco do vagão, e a poderosa rajada de vento deforma as expressões do meu rosto. Ela vai subir de novo, mas numa elevação menor, para novamente se lançar do alto, em uma construção de ferro e sonho tão contorcida que desafia a engenharia humana. É pura física. É pura inércia. É puro encanto.
A essa altura, quem tivesse moedas no bolso já deve tê-las perdido para a gravidade. A volta do parafuso faz o delírio da galera, que de braços para o alto, saúda a emoção de estar ali. A tarde de sol coroa o cenário, e Daft Punk pedindo mais nas caixas de som dá voz à vontade de todos nós, que sabemos que o prazer está chegando ao fim. E ele vem, enfadonho, na desaceleração do carro ao encontro da estação, como quem acorda de um sonho bom. As pessoas que vão saindo, como eu, parecem rodopiar, sem concatenar os passos. A montanha entrou nelas, e elas vão ficar presas em sua mágica.
Pra sempre.

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