segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Se é amor, imbecilize

    De nada me valeriam as palavras mais re-buscadas do dicionário, aquelas de jeito forçoso, que parecem ter sido despertadas dum longo sono para serem deitadas, desconfortavelmente, nas linhas duma folha fria que se pretende carta de amor, na tentativa de chegar ao seu coração por essa via tão tortuosa. Essas palavras, inúteis e mudas, posto que não te dirão nada: só são velhos vocábulos vítreos e blindados. Nada sentem.
    Se é amor, não há cerimônias. Não há formalidades, laços, gravatas ou nós bem feitos; se é amor de fato, então a pieguice aí se impõe como a maior prova de que esse amor realmente existe. Porque o amor é brega. Brega, cafona, kitsch e pintado dum vermelho-escarlate que o anuncia no olhar paspalho dos que o carregam sem se dar conta. Mas esse é um luxo do qual só os amores verdadeiros podem se ufanar. Esse amor, tão fácil e tão simples, que não se identifica com etiqueta e franze a testa para os minimalismos, intelectualismos, teorias e definições pós-modernas, bla bla bla filosófico de gente que, oras, nunca amou direito, dada sua preocupação em academizar o amor.
    É que o amor gosta das coisas assim, extremadas. Gosta das provas de amor exageradas, de canções banais que qualquer Bon Jovi ou Steven Tyler possa compor depois de um homérico pileque. Identifica-se o amor pela sua incontinência - porque mesmo os mais sóbrios denunciam o amor que os afeta em qualquer invonluntariedade que evidencie-lhes os dentes.
    Meu amor fala a língua das flores. A língua da língua lânguida que escorrega sobre a outra, em movimentos líquido-circulares. O que sinto é tão seu que acredita ser a tua nuca o perímetro de pele mais delicioso de todos; e quando minha cabeça se permite emergir naquela pequena ilha de pêlos do seu colo, até acredito ser a pessoa mais protegida e feliz que já viveu.
    De toda essa e outras breguices que compõe-se o amor. Seja ele o amor de 5 ou 50 anos: se é amor, dispensa-se a razão, confia-se no instinto, pretere-se o bordão à estética. Fernando Pessoa sabia, e eu, agora que tenho você morando nas minhas linhas de expressão, também sei.
    Se é amor, imbecilize-se. E seja o imbecil mais feliz que conseguir.

2 comentários:

Thuan Carvalho disse...

muuito bom.

obrigado =]

Isabela disse...

É a primeira vez que vejo alguém falar tão bem e vero do amor. parabéns! ganhou uma seguidora