segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Processo

Nas argolas o homem atravessa
os braços
alinha o fio da vida nesta casa
seu rosto, suas veias e os dentes mal comportados
num sorriso invisível
estável

A palavra enxuta 
filha da força bruta
fura a água 
com sua impossível textura
cava a terra
e seus dedos saindo pretos
pescam pequenas coisas

pedra, fogo, machado

O corpo deitado contempla
na escritura do céu
a plenitude das possibilidades 
as muitas teias de poeira e sonho
que se chocam enquanto dançam 
a mais antiga das danças
O corpo deitado, no entanto,
 não navega

Máquina
Formidável e temporária máquina
da feitura e do feitio se apresenta enquanto
máquina
separada, no entanto,
pela corrente de sangue e água salgada
ao verter do recôndito
a pedra lapidada

O homem
teso e suspenso em teste
vai ao chão de um salto e o músculo
quente em riste
mordisca as bordas intocáveis do número absoluto

Está em jogo o produto
Metal nobre na escuridão
Custando nervo e cabelos
O sucesso e a vergonha debruçados sobre o mesmo cadafalso

Não há no mundo um só poema 
que, se poema, seja falso




Para Fiama

Nenhum comentário: