Agora vou radicalizar, meu leitor. E sabe porquê? Porque já deu no saco ler o que eu não quero por aí e ficar de boca fechada, sem me pronunciar. E dessa vez, já sei o que eu vou atacar.
Reconheço a sua razão em pensar que o tal do estrangeirismo é um assunto saturado. Eu também acho. Mas é com base justamente na repetição desse fenômeno que venho aqui protestar. QUE SACO é pegar uma revista (principalmente aquelas de moda) e me deparar com termos que não são da minha língua. O preconceito que em mim não existia definitivamente se materializou depois de hoje, quando consegui a proeza de achar, em uma única página, 9 malditas palavras abrasileiradas. O estopim? "Poás". Porra, quanto custa falar "bolinhas"? Ou então "cook designer". Tudo bem que designer é um termo sem correspondente, mas cook? Ah, faça-me o favor. Que fique anti-estético, que fique "designer de cozinha", mas, fala sério, que fique em português!
A banalização progressiva do estrangeirismo que eu vejo por aí é a responsável pelo meu repentino acesso de fúria quanto ao próprio. Ouço por aí gente falando quase em inglês, francês, sem a mínima necessidade ou noção do que diz. O que penso, de verdade, é que essas pessoas, tão pouco familiarizadas com o próprio idioma, buscam uma espécie de "glamour" na língua estrangeira, mas não se dão conta do atestado de otárias que passam a quem possui um pouco mais de conhecimento, e esse alguém não sou eu. Lógico, gente, a intenção era radicalizar, mas eu não consigo né? É claro que eu tolero um estrangeirismo "light", que não vá macular o verdadeiro sentido do que a pessoa quer dizer. Estou exausta até os ossos da cultura da futilidade, do passageiro, do entreguismo. A impressão que eu tenho é que as pessoas que recorrem a essas expressões como quem muda de roupa têm muito pouco ou nulo interesse pela língua mater, o que é tão profundamente triste. Oras, temos nossos neologismos, metáforas, eufemismos e disfemismos pra quê? Para enfeitar gramáticas e discursos empoeirados de lingüistas? NÃO!!! Eles estão aí para usarmos, até porque, nos Estados Unidos, Inglaterra e França, ninguém costuma dizer que vai cair num "samba" mesmo que vá, por mais aportuguesada que essa palavra seja e por mais carga histórico-cultural ela carregue. Lá, eles valorizam extremamente seu idioma, o que o povo daqui, na carona, podia fazer também.
Tento, ao máximo, usar do estrangeirismo só quando se torna mesmo uma ocasião inescapável. Aliás, não dá pra pedir, na lanchonete lotada, um pão com um bolo de carne triturado; é mais fácil falar hamburguer mesmo. Nem o garçom entenderia, não é mesmo? Restrinjo essa prática - a partir de hoje, semi-abolida - somente às expressões que não têm um correspondente, como o caso ilustrado. Por mais que pareça difícil, nesse nosso viver tão estupidamente digitalizado, eu vou sobreviver, ah vou! Mas, acima de tudo, vou continuar aqui, postando ora sim, ora não, as minhas desventuras, minhas indignações, minhas comédias particulares.
Em bom e claro português.
Bom dia.
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