quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sutil - poesia plagiada

Descobri, através de um jornal que está circulando pela UFF, que uma poesia que fiz em 2006 foi PLAGIADA por uma paraense chamada Raiza. Ao abrir o jornal para ler os informes a cerca do ENEL (objeto do jornal) me dei conta de que lá estava "Sutil", uma poesia auto-biográfica que essa menina pegou e, não satisfeita, reintitulou como "Doloso". Seguem os links, para efeito de comparação, e, na sequência, a poesia original.

Blog da menina (e link da poesia plagiada) > http://worldraiza.blogspot.com/2008/08/ela-nunca-mais-ser-mesma.html

Blog de grande difusão na Região Nordeste onde também consta a minha poesia sendo assinada por ela > http://letras-norte.no.comunidades.net/index.php?pagina=1175648545

Link de onde a poesia foi retirada, no orkut > http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=8659387&tid=2478096271811918853

É só uma questão de comparação de datas. E, por garantia, já tenho os prints salvos.
Lamentável. Uma menina inteligente se utilizando da forma mais suja de apropriação: o plágio. Essa praga.

Agora, enfim, segue a poesia original:

SUTIL

Mentiras
Existem
Estão presentes
E rondam
Esperando brechas
Para avançar
Como flechas
Para destruir
Como bombas
Para acabar
E assim
Cíclica e dolorosamente
Para azedar
O gosto, o cheiro.
Mentiras
Existem
E espreitam
Vis, gris
E sorriem
Dos enganos
E gargalham
Das desgraças.
Como traças
Para consumir
Como ódio
Para extinguir.
Como o homem
Para esgotar.

domingo, 12 de julho de 2009

A tal da espera


Há gente que não goste de esperar. Particularmente, conheço muita gente assim. A espera sempre pressupõe uma inquietação, independente do que o que vier depois dela for bom ou ruim. Ela, muitas vezes, representa um estado congelado, suspenso no tempo, que a gente torce desesperadamente pra que se adiante o mais depressa possível, posto que nos separa do objeto-valor. Mas há algo indiscutível e difícil de se perceber no meio disso tudo, que vai além de revistas num consultório, além das televisões que visam adormecer o sentido retardatário, além da fricção dos dedos úmidos de suor: a espera prepara. A espera tempera.
A espera desenha pro futuro um monte de coisas. Se é uma espera trágica, ainda assim, projeta um resquício de esperança de que tudo não corra tão mal. Mas se é uma espera para algo bom... as hipóteses são fantásticas. Inapalpáveis, tamanho é o deleite. Tudo aquilo que só aumenta o desejo pelo extermínio desse meio-tempo. No caso de uma super festa, ou um super encontro, uma super viagem ao desconhecido, por exemplo, é a espera que salpica de encanto o caminho. E até lá ninguém dorme. E ninguém come. Todo mundo quer saber como vai ser, quer antever sempre o melhor possível, sem imprevistos; fantasiar como serão as pessoas, como serão as cores, as sensações. De certa forma, esse tipo de espera engrandece tanto o acontecimento que torcemos cegamente que tudo saia exatamente como o planejado; faz parte da lógica. Esperar é ir comendo pelas beiradas, saboreando os vislumbres de diversão e delírio que antecedem os reais diversão e delírio. E quando chega... temos a ligeira sensação de que ficamos quase uma vida inteira esperando por aquilo. E aquilo está se materializando, se consumando, e é tão intenso e efêmero que a gente não têm consciência disso até que se acaba; todo mundo levantando âncora, guardando barraca, catando do chão e do ar cristais de sorriso e vozes felizes que ficaram no percurso.
A projeção dum evento assim acaba, por fim, sendo muito maior que o próprio evento. Afinal, tudo o que nós temos, no fundo, são as memórias da emoções que vivemos e que remontamos, conforme praticamos essa memória. Enquanto isso, a espera contorna, com fios de ouro e luz, tudo aquilo que será.
Ou não.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Dejavúnico

Este é um relato dejavúnico. Vô logo avisando. É como se eu já o tivesse visto, e aqui está ele mais uma vez, se reproduzindo em mitoses sem final. No entanto, há sempre uma quebra em sua linha, que o torna distinto. DejavÚNICO.
Acontece que tô estressada. Mas tão estressada que nem 15 mil terapias em plena Kho Phi Phi me trariam a paz, essa endemoniada e impossível criança. Andando pela cidade e alimentando cânceres silenciosos, aí vou eu. Do alto da minha pobreza físico-intelectual e de um salto que me machuca; grilhão metafórico do meu caminhar rápido e pesado.
Lamentando minhas agonias, que não saem de mim tão facilmente quanto a fumaça que vomito pelas narinas. Perdão, Jefferson. Perdão, Adriano. Perdão, estratosfera. De repente, a estação. E mais de repente ainda, um assalto. Um assalto à minha culpa pequeno-burguesa sobre a exclusidade da dor. Um cadeirante debil mental mija nas calças, desamparado, envergonhado, mas não sozinho: uma louca cruel faz troças de sua incontinência, e, mal desconfia ela, me sinto tão ultrajada e ferida por saber que a debilidade física do infeliz é a figurativização do meu desengonço interno. Meu despercebido desajuste.
Unhas roídas. Estresse. Estresse. Unhas roídas. Cíclica do caralho. Tenho certeza que meu corpo é uma fábrica secreta de puríssima cocaína, muito mais forte que a colombiana. Hoje não há nenhum viajante a meu lado, todo mundo parece estar sangrando por dentro de alguma forma, e eu sinto isso porque esse sangue esguiça dos olhares desconfiados das pessoas diretamente nas maçãs do meu rosto. Saculejo no bonde mágico, que hoje me parece só mais um ordinário e enfadonho ônibus até Niterói. Mas é bem no início da ponte que um dos maiores deuses se mostra. O universo, e só ele, me beatifica com imerecido e singular presente: uma lua, madurinha de tão laranja, que nasce sobre as águas feias da Guanabara, colorindo-as de branco por onde a luz se espalha. Penso: será mesmo que tenho motivos pra reclamar da vida? Será que sou mais uma ingrata? Não. Certo que meus problemas se amiúdam diante daquele cadeirante, a ponto de me fazer questioná-los; mas será que eles somem? Não. Eles estão aqui. Depois da bênção lunar, de um encontro inusitado com uma amiga, se aquietam. Assim como a dor e o pânico não são exclusivivamente meus. Tudo permanece guardadinho, como já dizia Raul, que tudo tá na merma coisa, cada coisa em seu lugar. E certas coisas esperam pra se mostrar. Esperam a hora certa de sair.
Meu dia termina ao som (mental) de The way to Kundalini, dos Monges Budistas. Enquanto eu espero por dias mais amenos.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Casa nova

Tô me mudando.
Tô mudando,
me mudando de mim.
Tô trazendo na mala
Algumas fotos. Alguns cheiros.
Pedaço de biscoito
Um óculos grande contra mau-olhado
E todas as memórias.
Tô me mudando,
mas não vou tão longe.
Tô indo pra uma casinha
Bem no alto de uma terra que ninguém pisa nem governa,
e juro,
Quando eu chegar lá,
vou abrir as janelas.
Tô pegando o primeiro ônibus
Que qualquer caminho vai me deixar lá,
e no percurso,
vou me desfazer dos maus espíritos,
dos fantasmas,
dos papéis velhos amassados.
Tô me mudando.
Dessa vez é pra valer.
Por hora, não conto a ninguém do meu endereço,
já tenho por ele apreço,
por hora, não deixo ninguém entrar.
Tô me mudando.
Casa nova, tinta fresca,
A sala sem mobília e uma fome animalesca.
Eu sinto sorte.
Começos sempre começam sem cortes.

PS: Parabéns, bloguinho! E que minha criatividade/ócio/nonsenssisse continue te alimentando por muitos e muitos anos! ^^

domingo, 5 de julho de 2009

Meio assim

Eu sou meio assim,
Meio Helena de Tróia:
Venho através da guerra
E sou coroada com a glória.
Eu sou meio assim,
Meio Cleópatra:
À minha direita, meu algoz,
À minha esquerda, meu idólatra.
Eu sou meio assim,
Meio Mumtaz Mahal:
Eu nasci pra ser rainha
Por um tempo breve e imortal.
Eu sou meio assim,
Meio Maria Bonita:
Olhar matreiro, capiau,
Sob ternura do laço de fita.
Eu sou meio assim,
Meio Joana D’arc:
Atravessando o peito dos homens à lança,
Lançando-os à morte, eterno embarque.
Eu sou meio assim,
Meio Iracema:
Tão inatingível. E sonsa.
E tão desejável que tal desejo te envenena.
Eu sou meio assim,
Meio Aurélia Camargo:
Dona de mim, dona de você,
Moça de sabor amargo.
Eu sou meio assim,
Meio Pagu:
Fumando no escuro, eu te disseco,
Te irrito, te deixo nu.
Eu sou meio assim,
Meio Leila Diniz:
Transo de manhã, de tarde e de noite,
E ilumino teu sorriso feito flor-de-liz.
Eu sou meio assim,
Meio Rita Lee:
A cabeça em fogo,
A língua em jogo,
Pondo em prática tudo o que aprendi.
Eu sou meio assim,
Meio Maria Gladys:
Feia, mas sexy à minha moda;
Sexy nos meus olhos, nas minhas pernas, nos meus trajes.
Eu sou meio assim,
Meio Amelie Poulain:
Jeito simples e discreto
Com gosto fresco de lima e romã.
Eu sou meio assim,
mora uma Ana dentro de mim
E dentro da Ana que me habita,
moram mil mulheres sem fim.

sábado, 4 de julho de 2009

Cretinices e calhordagens

Sabiamente já dizia Lispector: o que obviamente não presta, sempre me interessou muito. O pior disso é que não tenho como discordar dela. Cigarros me interessam. Insônia me interessa. Maus hábitos me interessam. Pornografia me interessa. Mais de um homem também me interessa.
Eu já vinha pensando há algum tempo sobre esse tema, sem ter a mínima idéia de como articulá-lo, talvez até dada a sua complexidade de organização. E, voltando da rua numa tarde cinzenta de sexta-feira, duas palavras simplesmente não me saíam da cabeça: cretinices e calhordagens. Enquanto pensava nessas palavras, eu lembrava de um veeelho blues de Peggy Lee, chamado "Why don't you do right?" - que ficou ainda mais famoso na voz de Amy Irving, vivida pela lânguida Jessica Rabbit em "Uma cilada para Roger Rabbit" - que basicamente trata do poder que um homem bem estúpido pode ter sobre uma mulher que está dormente de amores. Cretinices.
Homens são danados pra aprontarem as tais cretinices e calhordagens. Mentir, trair, roubar, matar, iludir. Mas devo reconhecer aqui que não só eles. Mulheres também conseguem ser demasiado cruéis quando querem alguma coisa. Vagina e coração são os músculos mais traiçoeiros de uma mulher. Eles desempenham uma função dupla: podem, tanto catapultá-la para onde quer ela queira ascender, como podem lançá-la à pior desventura. Nós, mulheres, temos o dom de sermos laconicamente cretinas quando queremos. Basta classe. O batom e o decote certos.
Não é nada digno dizer isso, mas que verdade não dói? Em algum momento da vida, toda pessoa usa de certa calhordagem pra poder transpor algum obstáculo. Em algum momento, todo mundo mente. Omite. Usa de favores, faz favores; e estes podem ser razoáveis, ou bem imundos. Desde sempre, esse é o tipo de cadeia que rege não todas, mas muitas das relações humanas. E nós todos bem sabemos que estas existem, ainda que veladas. Tabulizadas. A problemática das cretinices/calhordagens é ampla, e está bem no seio de toda estrutura onde se projete qualquer sociedade. Existe isso, tanto na Daslu quanto na Rocinha, com diferenças apenas glamourizantes.
Leitor meu, não entenda a questão do ponto de vista apenas sexual - se é que o texto aqui o está inclinando para tal. As cretinices podem ser diárias, e muito mais comuns do que se imagina, e se distribuir em graus. Um beijo no escuro no namorado da colega é uma cretinice. Uma banda na promoção do parceiro da firma é uma calhordagem. Uma mentira bem engendrada, a fim de não magoar ninguém, é uma boa cretinice. O Sarney ter nascido, porra, é uma calhordagem. Da grossa. Como é possível observar, a calhordagem está num plano um pouco maior de filhadaputice que a cretinice. No entanto, o ideal - ideal - seria se afastar das duas. Aí que está o grande desafio.
Certas coisas na vida são demasiado sedutoras para se resistir. Não é apologia ao errado; é só uma simples exposição da mazela humana da fraqueza. A culpa é da carne. Se formos parar pra refletir, esse embate com requintes barrocos existe desde que mundo é mundo. O certo e o errado, razão e emoção. Por fim, andar na linha é sempre muito difícil e, parafraseando Bial, é só você contra você mesmo.
Fuja das cretinices e calhordagens da vida. Mas devagar, para que elas tenham tempo de te alcançar.

Lindos e lindas,

Tenho um comunicado pra fazer a vocês:
De agora em diante, passo a administrar, junto com o Luís Martino, o blog http://peliculofagia.blogspot.com/ , que trata de cinema com paixão!
Os posts vão se alternar entre resenhas minhas e resenhas dele, comentários, dicas, críticas e etc, sempre visando a promoção do diálogo entre o cinema e o público. Os imaginários leitores cativos do neversleeps agora têm outra opção!
Como tudo ainda tá bem fresquinho, aos poucos vou informando a vocês, por aqui, as atualizações de lá.
O recado tá dado. Espero que vocês nos felicitem com suas leituras!
Um beijão,
Aninha!