quarta-feira, 12 de agosto de 2009
A beleza do rascunho
Penso. Repenso. Dispenso. Risco, rabisco, concateno. A extremidade da caneta pendendo no canto da boca distraida. Os olhos castanhos perdidos nas linhas azuis. A tinta que salpica a palma da mão, a folha que pensa ser coração. A inquietude dos minutos.
O prazer ordinário e simples de manuscrever. O incansável e egoístico exercício da grafia perfeita, o vai-e-vem ruidoso que faz a esfera da caneta, que com um borrão desfaz o que deu errado. O que não encaixou. O preterido. O equivocado. O papel, em patchwork de manchas; manchas cobrindo pedaços inteiros de indecisão; manchas espalhadas, indentitárias.
O calo no Seu Vizinho, o peão da (minha) escrita. A graça, a importância da rasura. Faço, desfaço, melhoro. As imagens mentalizadas, que com muito esforço se afunilam para tentar sair pelo ducto estreito e libertador da caneta. A alforria viciosa, viciosa, viciosa de escrever. A construção. A hesitação. A seleção lexical. Gol!
O déficit entre um pensamento e outro. A estrutura organizacional do texto, a estrutura organizacional do papel, a disposição das palavras na folha, tão estrategicamente deitadas. Os pequenos borrões de tinta uma vez mais, que as costas do Mindinho carrega, sujando tudo o que fica pra trás. O amassar duma idéia que não prestou, e a cíclica sem final de começar de novo.
A arte impressa no testemunho.
A imaginação dançando pelo punho.
A beleza do rascunho.
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Um comentário:
Mas gosta de melecar, hem? haioeuhaeioheuoieaioehi Prefiro o teclado, muito embora bons textos como esse sempre comecem (e às vezes acabam mesmo) num rascunho...
Saudações verdes
Lázaro
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