quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Se quer caô... vai ter caô

O funk já é polêmico desde o seu berçário. Traz, na ferocidade lingüística de suas letras, na assinatura (muito física) de sua difusão, a expressão mais forte de uma massa marginalizada pela especulação capitalista que existe e que permeia todos os braços da sociedade, tendo aqui como objeto a carioca, de onde esse movimento é originário, ainda que seja oriundo da black music produzida nos E.U.A nos idos de 70. E a cultura do funk pulou quase todos os muros: do morro pro asfalto, do pobre pro rico, do preto pro branco, do Brasil pro mundo; mostrando, definitivamente, que este estilo, tanto musical quanto de vida, se incorporou a muitas das esferas que atingiu com o seu alcance referenciário.
Com essa repercussão toda, o funk, exposto, fica facilmente atacável pelos conservadores, retrógrados entre outras pessoas de mesma mentalidade, ou, simplesmente, pelos não-adeptos do gênero, que não conseguem enxergar nele uma unidade cultural massiva, que está muito além de sexo, drogas e tiroteio. Só que o funk, dessa vez, fez barulho alto demais.
Foi aprovada uma lei estadual que visa, literalmente, barrar o baile. O correto seria que ela fosse submetida a um longo trâmite, mas quem liga para o que é correto nesse país? Fundamentada em alegações de cunho duvidoso - tangenciando o preconceito e uma repressão de caráter ditatorial no que diz respeito, respectivamente, ao 'excesso de erotismo' das músicas e à autoridade conferida à polícia para acabar com a festa, invasivamente e sem aviso prévio - a controversa lei Álvaro Lins está levantando duas grandes ondas em progressivo choque: de um lado da mesa, os defensores, que apontam uma relação associativa dos bailes com a criminalidade, e que acreditam que esta seja uma medida válida e seus opositores que, além de considerarem uma alternativa autoritária, já anteveêm sua previsível ineficácia por conta de sua má-formação estrutural. E eles não estão errados.
Essa é uma emenda descaradament fascista, em cujo bojo habita o espectro de uma polícia integralista por essência. O funk é uma arte consolidada, e não há a menor necessidade - tanto quanto essa lei é desrespeitosa - do mesmo ter de se reafirmar a todo instante enquanto tal.
Inacreditáveis episódios como este infelizmente releêm, por exemplo, a presença reativa da polícia contra os sambistas do século passado, que eram violentamente repreendidos sob a frouxa acusação de vadiagem. Agora, pode até soar hilário, mas o preconceito só teve o trabalho de mudar de nome, e hoje é velado pela tênue cortina de hipocrisia. Isso é muito sério porque, dentre muitas outras razões para a institucionalização dessa medida, figura espinhosamente o fato do funk ser música de preto, ser música de pobre. E os discursos do preto e do pobre tendem, desde sempre, a ser silenciados por "forças maiores" para não criar alardes - ou seriam arrastões?
Seja como for o andamento da questão, vai dar caô. Porque agora, talvez pela primeira vez, reverbera, em todas as direções, uma voz que, através da promoção do diálogo em inúmeras rodas sociais, vai lutar contra esse abuso de poder. Uma voz mosaical, que abrange tanto a doméstica quanto o doutor, e em seu caráter unificado, representa uma real possibilidade da mudança não só do ponto de vista efetivo-pragmático, mas também na maneira de se pensar o funk enquanto um fractal identitário.

2 comentários:

Nathally Diafilos disse...

Menina! seu blog é a coisa mais fofa!!!
Amei por demais!!!
Adorei tudo!!!
Nota infinita!! rsrs!!!!

Anônimo disse...

Veja bem: o problema não é o baile em si, é a inveja dos defensores da lei por conta do molejo do funk - inversamente proporcional à vergonha na cara deles. Daqui a pouco, só as dondocas irão pro baile sem calcinha foder com três.