domingo, 25 de outubro de 2015

Em silêncio

Quando se pensar

grande
poderoso
gostoso
esperto
malandro
inteligente

demais

Lembre-se que

As supernovas e os buracos-negros e os sóis que borbulham e tudo o mais que está lá fora
que ainda não é conhecido

acontece em silêncio.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

E ele vai castigar os Maus

Todos esses
Corpos
Porcos
Aí deitados no chão
Esfregando pés e axilas
E bundas e peitos e culhão
Todos esses
Corpos porcos
Cada um cabendo
Cada outro sendo
Um na palma outro da mão
Hocus
Pocus
E a mágica se fez
Dos corpos porcos
suando salgrada a desnuda tez
Atirem seus parcos corpos
À pira da vez
Queimem de luz seus corpos
Porcos
Christi Corpus tem inveja
De vocês.

Macumba

Eu vou te prender
Nas tranças do meu cabelo
Passeando teu nome
Pelos meus fios
Pelos meus dedos

Vai ficar bonito
O meu cabelo assim - ornado
Com as conchas do mar e
as letras do teu nome
Amarrado
Eu duvido você conseguir fugir

Eu vou te prender
Nas tranças do meu cabelo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Quarando

 Não tinha mais que 7 anos, mas me lembro. Minha avó acordava cedo, para aproveitar que a casa ainda dormia, e ia lavar os lençóis. Sentada num banquinho de madeira gasto, espremia sua barriga grande entre as pernas e os ombros enquanto as mãos e os braços se ocupavam de esfregar repetida e veementemente aqueles grandes tecidos brancos. Não tinha máquina de lavar na casa de praia. Ela sintonizava o rádio em uma estação AM, e ouvia as notícias, as promoções de supermercado, e pequenos fatos fantásticos do cotidiano. Às vezes tocava um samba, e ela discretamente sacudia suas cadeiras.
 A bacia de prata fazia o rosto de minha avó brilhar, salpicando-o das pequenas estrelas que nasciam entre a luz e a água. Ela olhava pra mim e sorria, "vem ajudar a vovó", e eu ia segurar as pontas dos lençóis para deitá-los na grama e então, dentro de 7 minutos, todo o quintal havia se tornado um jardim do mais puro e branco algodão, cheirando a frescor e sabão, enquanto eu cuidadosamente caminhava entre eles testando meu equilíbrio ao me imaginar um títere de anjo suspenso pela vontade de um deus desconhecido.
 Naquela casa, todos os dias eram de sol.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Poema tirado de um artigo de psicologia

Só as tripas dizem a verdade
Ou predizem o futuro

Triste resultado
Para nossos lóbulos frontais.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Conto tirado de uma conversa com o Dida

A Xuxa malhava quando tinha vontade de fuder.
Ela disse certa vez.
E eu não esqueci.
A noite toda.

Poema tirado de uma nota da Comlurb

Coração de animal
Apodrece
Cria chorume
E atrai vetores.

Poema tirado de uma nota da NASA

Esses dois objetos
Estiveram juntos
Por bilhões de anos, na mesma órbita,
Mas são totalmente diferentes.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O grande pugilista

Percebi meu coração no meio da noite. Percebi que ele batia na garganta. Mas também batia nas mãos, batia na tatuagem do meu braço esquerdo - onde se inscreve um poema sobre não-ser - e batia, inclusive, no peito. Poderia bater por tantas coisas, o meu coração, e de fato bate; bate, inclusive, pelo (im)pulso biológico da existência. Bate pela pressão alta, pela pressão atmosférica, bate sob pressão. Grande pugilista, - touros indomáveis não o alcançam - de tanto esforço, meu coração, não duvido, me trairá cedo.

Meu coração não me deixa dormir.
E eu preciso trabalhar tão cedo amanhã de manhã.

sábado, 3 de outubro de 2015

Descabida

(Uma pausa)

Ocupo, por mania,
Apenas a metade
Inferior
Da minha própria cama.
Minha cama
(de solteira)
tem todas as medidas
convencionais
De uma cama
de solteira
normal.
Mas os meus pés, eles não cabem.
Eles se balançam do
lado de fora da cama
Pensando na última vez

que eu trepei aqui.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Prototype

- Você não precisa ser tão linear, sabia?
- Eu não sou linear.
- (risos) É sim. Mas não vai assumir. Tudo bem. (risos)
- Tem uma mosca no seu milkshake.
- Que observadora!
- Nem tanto. A mosca tá aí, boiando. Você já engole mosca o bastante no dia-a-dia, acho que essa é evitável.
- Hum, O.K.. Um a um.
- Eu não sou linear. Já disse.
- Você também disse que não gostava de Red Hot Chili Peppers. Mas aí ouviu o Blood Sugar Sex Magik.
- Eu não gosto de Red Hot Chili Peppers. Um álbum bom não torna uma banda boa.
- Durona.
- Chato.
- Mimada.
- Problemático.
- Você é engraçada.
- Por que?
- Não é uma coisa específica. Eu só acho teu jeito engraçado. No fundo, você é uma tonta. (risos)
- E você tá apaixonado.
- Hahahahahahahahahahahahahahaha
- Não é óbvio?
- Tô falando, é por isso que você é engraçada.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Não sei o número do meu CPF de cabeça.
- Isso é só comigo ou com todo mundo?
- Hum, quer saber se você é especial? Espertinha!
- E é assim que você trata as pessoas especiais?
- Se todo mundo é especial, ninguém é especial.
- Você é engraçado.
- Por que?
- Toda essa relutância elaborada pra negar que tá apaixonado.
- Você tá viajando.
- Durão.
- Irresistível.
- Babaca.
- Médium.

(pausa)

- Você gosta de mim?
- (demora) Não devia... mas gosto. Por que?
- Touché.
- O quê?
- Nada.
- O quê?
- (demora) Quando a gente diz que gosta das pessoas, o que sente é maior. Especialmente quando demora a responder e o final do verbo se arrasta dentro dos olhos.
- Hahahahahahahahahahaha, eu conheço esse jogo.
- Não tem jogo. Só tô te mostrando que você me fez de espelho pra uma coisa que tá sentindo. Mas eu devolvi. Quem tá apaixonada aqui é você.
- Você tem uma teoria pra tudo?
- Eu não. Mas sou bom leitor de sobrancelhas.
- E eu, de vácuos. Assume, ler o invisível é mais difícil.
- Então vamo fazer um pacto. Você assume que é linear. A gente vai pro cinema no sábado.
- Eu sou linear.
- Vamo pro cinema?
- Sim, vamo pro cinema.
Touché!

(https://www.youtube.com/watch?v=uqhJfjbNuQg)

Para Diogo