sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Por excesso

Apaixonadamente perdida
eu sou de vagar
A rua é um grande rio de concreto
duro
escuro
que eu gosto de navegar

Perdida
A noite como casa
A lua como reflexo
Todos os espíritos da escuridão
meus amigos

O chão conhece os passos
fotografa o calor dos abraços convertendo
essa luz macia e intensa
por dentro
empurrando-a
na unha dos paralelepipedos

A noite como casa
Certos mamíferos só podem ver no breu
A cor-de-âmbar dos copos de cerveja
Bebedouro de cristão
Bebedouro de ateu

A noite é uma casa de muitos cômodos
E portas trancadas

A lua como reflexo
internas rotações
O satélite na órbita dos olhos
Uma supernova na língua
A cabeça impossível
Desobediente da lógica

Apaixonadamente perdida enquanto
cada estrela é o ponto
de um manto
Por sob a mão nas minhas costas
pesa toda a benção e pranto
do que é maior que o mundo humano

Meu caminho desenha meu destino,
eu não

Tem rosa e vela na esquina,
desatino,
eu vou

Lascas de estrela talvez contem um dia
O que o olho nu perde, não vê,
não pede
É de força e resistência esse chamado
não é pra quem quer

Apaixonadamente perdida
eu sou de vagar
a vida é um rio extenso
que eu gosto de navegar.

Para Luciana,
cigana que hoje é luz.

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