sábado, 27 de dezembro de 2008

Queridos,

É muito provável que eu não termine os meus 10 religiosos posts de dezembro, porque ando meio sem tempo, correndo dum lado pro outro, fazendo coisas em casa, arrumando roupas - viajo dia 29 e só volto em janeiro, nem sei quando.
Me compreendam, é fim de ano! Sei que vocês vão compreender, porque são muito legais comigo! Juro pra vocês que vou compensá-los com os posts que vou ficar devendo.
Beijo beijo beijo, bom fim de 2008 pra todos vocês!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Quem grita seus males espanta

É bom gritar. Muito. Às vezes, quando eu grito, é como se estivesse colocando pra fora toda espécie de dor, de euforia, de excesso. Gritar é uma espécie de terapia, e a mais barata das terapias. Seus efeitos a longo prazo aliviam, relaxam os músculos, nos deixam com uma ligeiramente tonta, mas profunda sensação de liberdade.
Quando estamos felizes, gritamos. Quando estamos vendo um grande ícone de nossa geração a 300 metros da gente, gritamos, pois sabemos que se em parte vivemos, foi pra ver aquele momento. Gritamos quando um amigo morre, na tentativa de impulsionar a elevação sidérea do seu espírito pela força do nosso grito; na tentativa de expulsar essa dor que se abate sobre o nosso corpo frágil, humano demais.
Tem gente que grita a toa; um modo espirituoso de viver, muito comum entre meninas. Vejo de forma engraçada esses 'gritinhos', mas também interessantes manifestações de felicidade espontâneas. Eu gosto disso, quando estou feliz tenho esse estranho costume de gritar por nada.
O grito é humano, e ninguém ensina. Ele é a primeira coisa que sai de nossas cordas vocais, e às vezes é a última. É um sinal de vida, de socorro. É um sinalizador de que estamos aqui, precisando de alguma coisa, um reclame, que sobe inflamando-nos a boca, que encontra no ar o seu reprodutor.
É bom gritar ao ar livre, num campo bem aberto, sem nenhuma obstrução. Aquele vento batendo nas roupas, passando pelo nosso rosto, braços bem abertos e olhos fechados. Gritar, nem que seja qualquer coisa. "Gerônimo!" "Eu estou vivo (a)!", "Meu nome é (insira-o)!". Sei lá. Pelo menos a mim, quem grita seus males espanta.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Entre Macunaíma e Homer Simpson

Cada nação, um herói. E um herói diz muito sobre o povo que habita esta respectiva nação. O herói é a personificação de um apanhado de aspectos comuns à gente de dada comunidade e, uma vez reunidos, são depositados numa pessoa, e o heroísmo é uma delícia e um fardo, simultaneamente. Mas, em direção à terceira margem do rio, também é possível associar ao herói uma outra característica: a ironia, que particularmente acho bem mais atraente que as citadas. Ela é o principal ingrediente na construção do que chamam anti-herói. Mas o que é o anti-herói que um retrato do povo? Um povo inconstante, de sorriso e mazelas? Os heróis virtuosos são distantes demais; os trágicos são enfadonhos demais. Já os anti-heróis unem e temperam com maestria estas disparidades. Então, o que é melhor que um anti-herói na representação de seus conterrâneos? Sem querer, a contradição faz a lei: o anti-herói é o próprio herói!
Nosso melhor e mais preci(o)so é o famoso Macunaíma andradiano. Vê só se não é a imagem e semelhança do brasileiro: malandro, genioso, lascivo e preguiçoso. Talvez me apareça aqui uma meia-dúzia (ai, como seria bom!) pra me contradizer; mas aos meus olhos, o herói brasileiro não pode ser melhor representado que Macunaíma, filho legítimo do Brasil, aquele que carrega nas costas a identidade nacional; mosaico exato da nossa história.
Mas, pulando fronteiras internacionais, saio em busca dos heróis dos outros países. Da Argentina, meu emblemático e querido Ernesto. Da Itália, Vito Corleone. Dos Estados Unidos... não se atreva a dizer Abraham Lincoln, a explosão pop Obama ou o maldito Ronald Reagan: o maior herói americano de todos os tempos é contemporâneo, mais novo que eu mesma e nunca personificou tão bem a alma dos americanos como o amarelo Homer Simpson de Matt Groening. Este capta com uma precisão assombrosa a essência do comportamento sedentário, periférico, desvelado e sincero dos norte-americanos, por trás de todo o falso moralismo socio-histórico no qual os mesmos estão envoltos por uma fina cortina de hipocrisia. Homer bebe a lot, é sonolento e cansado, insatisfeito com seu ofício profissional e um devorador assíduo da mídia de seu país, o que o deposita num patamar imbecializado de ser; Bart teria possíveis problemas com drogas no futuro, Lisa é uma nerd delicada e introvertida. Isso é plano de fundo o suficiente pra um "Beleza Americana II". Reflete a realidade de um povo que está far away do american way of life; ideário que, a propósito, está morto. Porque as pessoas, então, tendem a rechaçar a realidade enquanto identidade nacional?
Acho uma grande besteira negar a matéria que nos compõe. Que imagem você quer passar? Que mentiras quer transmitir? Macunaíma está para o Brasil como Homer Simpson está para os Estados Unidos, os americanos e brasileiros gostando ou não. E os dois não buscam exatamente nada epifânico ou revelador: são só duas personagens que estão contentes da sua condição e não estão lá muito interessadas em mover suas bundas gordas em direção a uma mudança. Um herói não é um estereótipo. É um emaranhado de vestígios reincidentes e renitentes no âmago de uma sociedade friamente repartida e exposta, e no meio desse amálgama, lá estão, em algum lugar, Grande Othelo e Dan Castellaneta proseando em meio a café e cigarros.

O discreto charme dos esquisitos

Vá lá, em todo esquisito mora um charme que nós, - até onde pensamos - normais, não sabemos explicar. Eles são desajeitadões, indies, nerds, geeks, grandes demais, parecem não caber em lugar nenhum. Muito magros. Muito gordos. Médios; cabelo no olho, lentes enormes, narizes enfiados em livros, e cacoetes: bem vindo ao estranhamente sedutor universo dos esquisitos. Muitos bonitões dizem ter prazer em zoar esses 'tipões' desde a infância, - isso é muito bem documentado em produções trash-baratas de sessões da tarde dos anos 90 - mas acho que no fundo é por medo. Cientes do charme incomum dessas criaturas exóticas, os fisicamente abençoados tremem na base, se sentem inseguros diante da ameaça de perder a namorada pra um esquisitão. Maginou a humilhação?
O discreto charme dos esquisitos é quase invariavelmente marcado por uma timidez incorrigível. Não que sejam pouco sociáveis, mas são bem excêntricos. Na hora de uma conquista, essa galera acaba desfavorecida justamente pela inabilidade com as palavras, a falta de jeito; coisas que, dependendo da ótica, também podem acabar se convertendo em pontos positivos. Afinal, esquisitão é charme. Esquisitão é tendência. Esquisitão é moda. Oras, não venha me dizer que Marcelo Camelo, Mari Moon, Agyness Deyn, Ringo Star e Quentin Tarantino são normais!
Eu já arrastei um rabinho de olho pra esquisitões na rua. Eles são atraentes, à sua moda. E é interessante ver a locomoção deles, vê-los evolvendo-se pelas ruas e avenidas, chegando atrasados, ensopados de chuva, com mancha de catchup na roupa branca, com um floco distraído de poeira no cabelo. Eles são demais. Sem querer, são a essência do cinema cult e da cultura pop.
Esquisitões estão dominando o mundo, e tenha dito!

Já é natal na Leader Magazine!

... vai dizer que o ano inteiro não passa, como num filme, pela sua cabeça, quando você ouve esse alegre jingle que já habita o subconsciente coletivo durante todo o mês de dezembro? É a hora em que este fenômeno propagandístico da Leader joga na nossa cara que -wow!- já é o último mês do ano... e o que fizemos dele? [...]
Meio piegas escrever sobre um possível balanço de 2008 aqui. Acho que nos outros 70959345930493957348 blogs existes, todo mundo já deve estar tratando do tema com a peculiaridade sensitiva que lhes é característica. Mas e eu? O que eu falarei aqui a respeito? Do meu medo do futuro, das minhas espectativas? Das coisas muito boas que me aconteceram no decorrer desse ano, das péssimas? A criatividade me deixou às escuras agora, e odeio quando ela faz isso. Pois bem. Vamos tateando e ver no que dá.
Sempre que um ano se encerra, faço promessas que não vou cumprir para o próximo. O pior é que já sei que não vou cumprir, mas ainda assim, olho praquelas estrelas convidativas e lanço minhas promessas aos céus. Não sei. Acho que é a força da revolução solar, ou alguma influência planetária, que enche as pessoas de vontade de mudar, ainda que essa vontade se restrinja só mesmo à hora de abrir o champanhe e confraternizar aquela alegria meio que obrigatória e cronometrada. Nada contra essa efusão; mas gostaria que ela se estendesse para os meses seguintes, pelo menos um pouquinho [...]. Me dou conta de que é impossível. Apesar de surtirem efeito limitado, festas de fim de ano têm essa função de injetar felicidade nas pessoas, por pior que elas se sintam, generalizadamente falando né, porque convenhamos: o fim de ano de certos catarinenses não será dos melhores.
Mas não custa a gente mentalizar coisas boas para o ano que vai nascer. A positividade rege a espécie humana, a capacidade de superação das coisas ruins sempre se sobrepõe às adversidades. É humano isso, de achar que vai mudar pra melhor, de se ancorar na esperança. Detesto quando meus posts ficam com cara de auto-ajuda, mas em certas circunstâncias é muito difícil fugir disso. Como agora. Momentos auto-ajuda me emparedam aqui, mas são eles que nos devolvem a crença em dias melhores. Não é um defeito ser positivista!
Enfim, acho que 2009 será melhor que 2008. Como achei que 2008 fosse ser melhor que 2007, e segue-se a corrente. Afinal, todo mundo tem fome de boas mudanças, e isso é um defeito inerentemente humano que dá continuidade a esse equilíbrio delicado que chamamos de vida.