Há bastante tempo eu não ia a um circo. Um bocado por falta de oportunidade, outro tanto por desinteresse/desilusão - o Cirque du Soleil, na minha visão o melhor do mundo, é caro, caaaaro demais. Mas acontece que rolou, e recentemente fui a um.
O circo é uma arena mágica, povoada de sonhos e catarse. No picadeiro, a gravidade é uma tolice, e os seres que lá e somente lá habitam efemeramente são compostos basicamente de imaginação e pequeninos pedaços de papel picado na cor prata. É tudo às avessas; essa persiana encantada que oculta uma realidade secreta.
Se os artistas mambembes são astros sobre o palco, fora dele a coisa muda. Eles têm uma vida bem apertada, mas algo de luminoso permanece nos seus olhos. No caso do circo que eu fui, os mesmos artistas que realizavam as performances incríveis são aqueles que, nos intervalos, se vestem de gente ordinária e vão vender pipoca, churros, pastéis, guaraná natural e afins. E não mencionei a semi-gratuidade da entrada. Adultos, R$15, crianças R$5, por duas horas de espetáculo.
Há um quê de ilusionismo velado na estrada das trupes mambembes, há até sex appeal, eu diria - são homens e mulheres bem torneados, usando pouca roupa e, a excetuar pela muito provável hipótese de amizade entre eles, sabe Deus o que rola nos bastidores. No passado, o circo era visto como entretenimento pagão, por conta dos desafios visuais, das aberrações humanas - hoje em dia não mais utilizadas - da ilusão no geral propriamente dita. É claro que toda essa acepção morreu, mas, o imaginário coletivo ainda hoje fica impregnado de cegueira e sonho ao vislumbre da hipnótica dança de fumaça, movimento e luz que permeia os picadeiros em todo o mundo.
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