Não sei se todos vocês conhecem o belo trabalho do Padre Fábio de Melo. É bonito mesmo. Eu tinha ouvido falar desse padre antes de sua repentina fama, e vejo nele um ótimo referencial para os outros teólogos, por assim chamar. Ele não é dado ao estrelismo marcelorrosiano, ao contrário do que algumas pessoas já estão julgando por aí. Ele inclusive tem um programa maravilhoso, que mais precisamente mostra sua subserviência a Deus no canal Canção Nova, onde prega, com uma linguagem prática, despida de fanatismos nem apelo ao capital. Enfim, Fábio de Melo é um cara que, apesar da batina, leva uma vida perfeitamente normal: passeia, viaja, se veste normalmente, bebe umas... tá gente, brincadeira!
Acontece que a mídia encontrou o Fábio. Seu jeito inteligente e modesto, sua singeleza e, óbvio, seu rosto de traços másculos e harmoniosos, seus dentes branquinhos, sua pinta de Gael Garcia Bernal. E tudo o que se vende ou se trata de Fábio de Melo é agora veiculado, preponderantemente à sua - muito, muito bem apessoada - imagem. Seu último show, no Canecão, Rio, reuniu , em grossa parcela, pessoas na faixa etária de 15 a 25 anos - estando contidas aí umas poucas e boas histéricas que, na vã esperança de desviar o homem de sua vocação, gritavam "lindo" da platéia.
O padre é pop. Não por escolha própria; mas pelo empurrão midiático em torno de sua figura. Novamente e como sempre, os veículos que disseminam a informação e a novidade voltam seus holofotes para o sangue fresco, o físico: esta matéria divinamente emprestada. Como se ela fosse mais importante do que aquilo que se tem a dizer. Em se tratando de pessoas que vivem da imagem, é relutantemente aceitável (minha visão). Mas e no caso da alma boa Fábio de Melo? Isso aconteceu - e acontece - também com Barack Obama. Sua forma jovem e esbelta foi vista como a personificação de uma provável mudança positiva em termos de E.U.A e mundo; enquanto seus programas nebulosos a cerca da política interna/externa permanecem velados por esta estúpida cortina construída à base de seu "carisma", sempre catapultando sua imagem warholizada à frente do conteúdo. Mas, voltemo-nos ao pop padre, com o perdão do próprio.
Não nego. Existe um parcial charme, com ares de volúpia imoral entremeados de pecado e danação eterna quando se olha para alguém que canaliza os anseios de Deus com desejo sexual (consenso culturalmente ocidental, nunca o meu). Eu mesma iria fácil no Fábio, muito fácil; mas acima de tudo, tenho profundo respeito por sua escolha, a ponto de nunca externalizar meu desejo por ele se um dia me encontrar diante dele, esse bom caminho inteiro. Vejo, em primeiro lugar, a densidade de suas canções, a potência de suas mensagens fantásticas, e realmente almejo que ele conquiste muitas pessoas com sua simplicidade, que visam o bem do próximo entre alguns outros valores nos quais ainda tenho fé. Depois, secretamente, me refestelo naquele olhar, que na ausência de uma definição pagã, é simplesmente divino...
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