sábado, 28 de março de 2009

Unplugged

Vamos desligar.
Vamos desacelerar. Tire tudo da tomada. Impressora, microondas, modem, telefone, coração. Aperte o power do celular, do bipe, do IPOD. Vamos dar um tempo. Não, não se trata de nenhuma "hora do planeta". É a sua hora. Sua e de cada um.
Vamos respirar. Tudo desligado, o som da respiração é precioso, e pede atenção. Vamos voltar nosso olhar pra nós mesmos, recortando mentalmente tudo aquilo que realmente é importante e separando da cinza impureza mecanicista. Ora esguardai.
Fechemos os olhos traguemos fundo o ar que, com um pouco de imaginação e positivismo, convertemos em puro oxigênio. Fechemos os olhos, fechemos mesmo. Olhos abertos são como tomadas de alta voltagem, conectoras do mundo externo que, de tanta informação, entontece. Descansemos. A ordem hoje é desligar. Vamos desligar.
Vamos entrar na água. Já que tudo está desligado, não há perigo. Primeiro, delicadamente e sem pressa nós inserimos as pontas dos dedos dos pés, para que cada nervo sinta o prazer que mora na água. Depois, os pêlos das pernas vão encontrando na sensação aquosa um beijo inédito. Mergulhe agora. Deixe que a água preencha suas narinas, seus cabelos, e tudo o que mais houver. Deixe. Permita.
Não se importe em desligar. É preciso desligar. A cabeça que trabalha sob muitos volts todo o tempo se desgasta muito rápido, muito fácil. Uma bateria é uma bateria. Uma pilha é uma pilha. O corpo não é uma pilha, mas se recarrega apenas em descanso. Não saia correndo. Não faz mal estar em ponto morto. Felicite-se por se dar essa oportunidade única, cado estúpida e individual de sentir-se. Sinta-se. Toque-se. Bombeie energia natural pelo seu corpo com a força do pensamento - a mais poderosa força que há.
Vamos desligar. A tomada tem pouco mais de um centenário, e viveu-se muito bem sem ela. Aliás, vale lembrar que foi imerso na escuridão que Galileu observou o heliocentrismo. Desligue a luz. No escuro, a gente desenha mundos imaginários incríveis. Não tenha medo do escuro. Medo do escuro é uma crença moderna feia, propaganda melhor de sua necessidade pela luz. A luz é boa, mas também cega. Enxergue pelas pontas dos dedos, com a boca, com o pulso. Vamos desligar.
Desligue absolutamente tudo. Desligue o ar-condicionado, o ventilador, o rádio, e principalmente a televisão. Se também for o caso, desligue o aparelho. O aparelho só está adiando o inevitável, aliás, o que já era para ter acontecido. Se você ama, você deixa ir. Dê a liberdade a quem se ama. Desligue. Desligue totalmente.
A intensidade não está na eletricidade. A eletricidade é sim, necessária para muitas coisas, mas permita-se alguns minutos de sua total abstinência, todos os dias, se conseguir. Afinal, qual condutor é maior que a vida?

Um comentário:

Lázaro Barbosa disse...

Deligare necese! =)

Saudações verdes

Lázaro