Pensei em escrever sobre Michael. Mas o receio de cair em xerox de todos os editoriais que saíram a seu respeito ao redor do mundo me fizeram voltar atrás. Mas ainda queria escrever sobre ele. Então, numa conversa que estava tendo com um amigo, que também prestou uma elegia ao rei em seu blog, ele me disse, sabiamente, que a única forma de escrever sobre Michael era se utilizando da única fonte imiscível que temos ao nosso dispor: nós mesmos. Michael e nós. Eu, você, João, Maria, Alberto e todo mundo. Apesar de ser a mesma estrutura, a argumentação muda a partir do momento que varia de pessoa pra pessoa, porque, elementar, cada experiência é única.
Então é isso. Michael e eu.
Com todo o sucesso dele, eu vim a conhecê-lo, oficialmente, aos meus (aproximadamente) seis, sete anos de idade, com o clipe que entraria pra minha história: Remember the time. Ambientado no Egito antigo, contando com Eddie Murphy e a linda modelo negra Iman - que à época eu dizia repetidas vezes ser a cara de uma das minhas primas -, o clipe tinha o estilo jacksoniano, trazendo uma trama introdutória pararela à aparição de Michael. Eu me lembro perfeitamente da minha relação com aquele clipe. Era em cassete, eu sempre rebobinava. Adorava, desde a mini-trama à coreografia incrível orquestrada pelo maior dançarino do pop de todos os tempos.
Assim, Michael entrou na minha vida. Depois de um tempo, assisti a Thriller. E, como quase toda criança, fiquei chocada com aquilo, ainda mais por ser uma menina muito medrosa. E me apaixonei por Moonwalker. Como eu adorava "Smooth criminal"! Tudo o que se passava de Michael eu me prestava a assistir. Não era o que se possa chamar de uma fã inveterada, mas eu certamente nutria por ele grande admiração.
Eu cresci. E, do nada, voltando pra casa depois de mais um dia, vejo uma notícia que não processo. Michael é encontrado morto. Michael? Michael Jackson? Impossível! Como, se ele estava se programando pra turnê? Como, sendo ele quem é? Mas a morte, o único mal irremediável de Guel Arraes, não espera turnês, caprichos, lamentos, preces. A morte arrebata tudo, todos. E até Michael.
A causa específica da morte de Michael ainda é um mistério. Toda a mídia internacional noticiou como sendo uma parada cardíaca seguida de coma profundo. Será? Minha mãe sustenta, desde que se falou na morte de Michael - e eu estou de pleno acordo - que as circunstâncias que desencadearam a morte do Astro foi uma overdose de anti-depressivos, o que é bem cabível se observarmos o estilo de vida que Michael levava, desde o começo.
Mesmo sendo o artista pop mais bem sucedido de seu tempo, com cifras-recorde em vendas, o menino Michael era, como tantos outros artistas, mais um infeliz. Um homem frustrado por seus complexos, e na desesperada tentativa de ocultá-los, o que mais fez foi expor os mesmos. Michael jamais deixou a infância. Ela ficou guardada nele, e era externalizada em suas atitudes excêntricas. Daí todas as polêmicas envolvendo menores. A conjectura de minha mãe é muito razoável, e Michael talvez estivesse vivendo o zênito de uma depressão irreversível. A injestão desses supostos medicamentos teria sido um suicídio (in)consciente.
Para mim, Michael é o tipo de pessoa que só vem ao mundo milenarmente, dada a sua singularidade. Ele marcou todas as festas-ploc que eu já fui. Eu já fiz o imitável, nunca inigualável moonwalker. Quem não fez? Em algum ponto da vida das pessoas, Michael entrou. Invadiu. Ficou. E agora, que a gente se vê sem ele, sente uma falta de si mesmo que é estranha. Não que Michael fosse indispensável à vida de todos. Mas, de alguma forma, ele costurou sua história à, pelo menos uma parte, da nossa.
Descanse em paz, Michael. Depois de toda uma vida procurando por ela, pode ser que finalmente você a tenha encontrado.
Para Michael Joseph Jackson - 29 de agosto de 1958 - 25 de junho de 2009.
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