sábado, 20 de junho de 2009

A preguiça de olhar

Não sei se isso ocorre com mais alguém além de mim. E é justamente querendo saber que me proponho a escrever este post.
Os meus olhos são dois mundos castanhos ligados involuntariamente em 220 o dia inteiro. Não sei se já mencionei isso, mas eu sou algo como o Tyler do Clube da Luta de saias: se esses mesmos olhos que reporto se fecham por mais de 6 horas seguidas, têm-se um recorde. Não quero falar de insônia, não é isso. Meus olhos são dois buracos-negros não pensantes, alimentados de luz, bytes e novidade. Inutilidades? Muita. Faz parte, não importa o quanto eu tente me desvincilhar delas. Acontece que sofro de um fenômeno, que julgo raro - porque nunca ouvi ninguém falar que tem.
Tenho preguiça de olhar.
Não pense que é de ler. Tipo quando um amigo nos oferece um texto e dizemos que estamos com preguiça de olhar. É preguiça de olhar mesmo. É um cansaço visual que eu não sei explicar. E você pensa que fecho os olhos quando isso acontece? Nada disso. Eu os descanso, mas não com óculos. Desfoco-os completamente, e isso me abraça com uma sensação de desligamento parcial que é tão boa que me reintegra. Às vezes - acontece muito - estou diante de um vídeo, que pode até ser do meu interesse, mas aí bate a tal preguiça exótica. E preciso desfocar. É no desfoque que hidrato minhas retinas.
Meu leitor, não pense que eu minto, apesar disto poder lhe parecer um bocado absurdo. O desfoque funde as cores, as texturas, as luzes, em um grande liquificador, potencializado pela necessidade de fugir do turbilhão informativo ao qual estou exposta que se derrama sobre mim como uma chuva ácida. É uma lisergia particular. Ele uniformiza. Dura uma média de 10, 15 segundos; mas já ajuda. Depois dele, quando a visão normal me retorna, parece que ganhei novas córneas.
Não sei porque tenho a preguiça do olhar. Eu posso aqui supor que ela é fruto de um monte de coisas, mas não vou achar um eixo de exatidão pra sua causa. Encaro essa preguiça como algo saudável, instintivo e repositor. Como o ouvido exaurido que chega da rave pedindo silêncio. Como a boca, cuja língua é músculo tentacular, que precisa repousar deitando-se entre os dentes. Essas danças todas são equilíbrios vitais dentro de um sistema maior, e precisam atingir sintonia, senão desandam. E isso - eu acredito - não vale só para o corpo humano, mas como para tudo o que está fora dele e além. É uma lei secreta que rege todas as coisas. Uma metáfora de vida.
Paro por aqui. Acho que já me fiz entender.
(Mentira. É porque estou com preguiça.)

Bom sábado!

Um comentário:

Luís C. Martino Jr disse...

ME VI escrevendo esse post, só digo isso.

Achava que cada susto depois de uma "apagada" dessas me afastava ainda mais da possibilidade de me achar "normal" como o resto do mundo, e não mais um candidato a mais novo altista em qualquer clínica no estilo "Bicho de Sete Cabeças" (apesar de não fumar maconha e nem ser o Santoro).

Ok, admito ter a ajuda do meu iPod, que não me larga. Dependendo da trilha eu posso apagar até ANDANDO, e de repente "ih, já cheguei!".

=*