Coisa que me dá nos nervos, sei lá. Ta aí uma das frases que já trazem uma carga toda empoeirada, desnecessariamente. Quem nunca cometeu alguma besteira, fez algo diferente e ouviu, seja dos pais, seja daquela tia meio chata, da avó: "No meu tempo, isso assim assim..."?
Nostalgia é um sentimento pra lá de saudável. Quem é que não gosta de lembrar de uma época boa, que está seguramente guardada num lugar todo especial do nosso passado? Mas viver dessa nostalgia, sem vontade de se desprender dela e acreditar cegamente na impossibilidade de uma vida melhor é que é doentio. Não gente, não tô falando de algo utópico, isso existe sim, e vocês não fazem idéia de como é triste ver pessoas que se atrelam ao que já aconteceu e não conseguem viver uma vida em função do presente ou do futuro. É chato, mas acontece.
É até normal que os mais velhos façam essa analogia temporal conosco, para ilustrar melhor o que eles querem dizer. Mas quem faz dessa comparação um vício conversacional mostra que o falante está alheio à realidade e tende a desenvolver certa repulsa nas outras pessoas, porque o mesmo acaba ficando sozinho nas conversas. O mesmo serve para o famoso "nossa, ontem eu te peguei no colo!" Exclamação compreensível, que às vezes soa como um pequeno alarme particular que você já tem vinte anos - ou mais - e não plantou nenhuma árvore, por exemplo.
Voltemos ao "No meu tempo[...]". Acredito que existe uma certa aversão dos mais vividos para com a passagem do tempo e os costumes, que mudam conforme os anos. Justo. No passado, brincava-se de amarelinha de tafedê nas calçadas, e quase ninguém acha que isso seja obsoleto, muito pelo contrário: ao falar nessas brincadeiras, hoje quase extintas, vem à tona toda uma aura saudosista, como se aquilo fosse o melhor já inventado em termos de lazer humilde nos anos 70, 80. O "queimado", o "pique-alto", o "pique-cola-americano" nas ruas, sem medo. Brincar na rua, em se tratando da metrópole louca e violenta em que vivemos está difícil, e, mais que cultura, isso é um fator social. Hoje, a diversão das crianças são os videogames, a internet - com supervisão dos pais ou sem, tudo voltado para a parte eletrônica da coisa. Brincar fora de casa, no máximo, o play do apartamento. Fato: o mundo está cada vez mais digitalizado e eletronizado; não que isso seja tão péssimo, mas acaba por construir muros entre as pessoas numa época em que é tão salutar que elas estreitem o máximo de contato possível: na década de ouro da infância.
Nossos pais, na infância, se divertiam à sua maneira. Sim, existe muita diferença no que parece ser só um breve intervalo de duas décadas; mas diferença essa para abalar a cultura, estruturalmente falando. A cultura popular, a cultura familiar. Os anos trazem consigo o embate da modernidade X tradição, e isso não é a decrepitude da virtude nem a perda do valor; mas uma transição, uma alteração, quiçá uma interseção do passado com o presente.
É de muita ignorância que determinadas famílias urbanas - digo urbanas porque famílias do interior são ainda mais ligadas a valores antigos que as referidas - tentem, muito frequentemente à força, educar seus filhos do modo que foram educados. Com a rispidez e a disciplina extrema que lhes foram impostas. Eu olho para esse quadro e fico meio sem ação, porque o mundo muda, e o pensamento tem que seguir o fluxo. Se a pessoa insiste em mastigar costumes muito antigos, ela tende à exclusão voluntária. Sim, devemos preservar as nossas raízes sempre, mas oferecendo um terreno fértil onde também possa coexistir a cultura do novo, não em tensão, mas em harmonia com um pretérito perfeito que nunca deve perder sua importância ante a modismos e novidades.
=]
Nenhum comentário:
Postar um comentário