quinta-feira, 19 de junho de 2008

O desentretenimento e a cidade

Não devia, mas eu estou particularmente abismada com a exigência pobre dessas brasileiras que se deslumbram com um universo discrepante que recentemente estreou nos cinemas, e que estão fazendo filas para assisti-lo. O nome do sucesso é “Sex and the city – o filme” e, com o perdão dos fãs, o que já era ruim ficou ainda pior.
Nunca fui dada a seriados, principalmente americanos, a menos que tivessem um fundo histórico, ou de estudo social, ou minimamente cultural. Acontece que especialmente “Sex and the city” tem um contingente maciço de seguidores, e minha inocente pergunta destoa de uma massa uníssona: porquê? Porque tanta promoção e tanto barulho em torno desse filme? O que leva os nossos espectadores – e os de lá – a irem à tela grande, senão um enredo fraco, crivado de uma vastíssima coleção de clichês cansados retirados de livros de auto-ajuda destinados ao público feminino, ou de conteúdo meramente prescritivo quanto a relacionamentos, que são tomados como verdade absoluta numa Nova Iorque que só existe na tela? A mulher americana parece estar habituada à manualizações de todas as coisas, ignorando a ordem natural ou espontânea dos eventos da vida. Elas criam um “how to” de uma primeira noite de sexo, de como dançar, de como reagir ante a cada situação, e isso me incomoda por ser de uma estética tão mecanicista. Ok, segundo a minha intuição, isto está mais para um fenômeno cultural recente que uma padronização social propriamente dita. Mas o mais incrível é como tanta brasileira incauta cai nessa. Gosto de fantasiar que trata-se daquele impacto superficial “legal” que uma outra cultura fora da nossa realidade causa, porém, se passar disso, se essas mulheres começarem a adotar esses conceitos, coordenar todas as suas ações a partir deles e abdicar de sua brasilidade, aí acho babaquice.
Eu não vi – nem verei – este filme, porque seu recheio tá com fermento de menos. Acho de uma paciência otária esperarmos por produções americanas com um fundo mais sério, isso atualmente falando e excluindo desse lastimável panorama diretores como David Lynch, Martin Scorcese, Oliver Stone, Woody Allen e afins. Pior ainda é pensar que essa obra é o programa perfeito para o 12 de junho. É muita falta de criatividade pensar assim, mas não obrigo ninguém a concordar comigo.
Talvez eu até mude de idéia. Talvez eu assista ao tal filme. Mas, obviamente, depois que ele chegar às locadoras, e isso só para conferir os tão afamados sapatos de Sarah Jéssica Parker. Hum... pensando melhor, acho que isso não vale nem os três reais da locação. Pensando bem, já desisti.
:/

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