Você não tem mais 10 anos. Já pode sair à noite, tomar umas cervejas com os amigos e disseminar um pouco – aconselhável – do seu sexo por aí. Você não pode mais pensar que amanhã dará tempo, porque sabe da hora do rush, sabe que seu chefe quer uma planilha exemplar e que sua crônica enxaqueca não vai fazer o mundo parar. Você está encarregado de correr para sempre, e sempre sem direção; porque você não tem mais 10 anos. Às vezes, você pensa em desistir, você pensa em jogar tudo pro alto; o professor pega no seu pé e a absorção da matéria é impossível. Os monstros verde e roxo foram embora pra sempre e te deixaram sozinho no quarto. Ou você pode fantasiar que eles metamorfosearam-se em promissórias, em angústias, na síndrome do pânico, em dívidas. E então você bebe, pra esquecer. E chora pra equilibrar.
Sim, infeliz ou felizmente você não tem mais 10 anos. E, quando no raro instante em que se deita e olha para o teto, lembra-se do joelho ralado, do último dente de leite, dos sonhos com beijos e da então – hoje – estúpida vontade de crescer. Mas você é devolvido à realidade num baque surdo do despertador que anuncia uma outra atividade qualquer do seu dia, e com ele, a certeza da continuidade, a teimosa possibilidade de melhorar as coisas, uma brasileirice inerente isso, talvez. Entretanto, este é o barco fantasma que nos guia no mar arredio da vivência – ou dessa estética mecanicista de vida. Apesar da bela roupagem, esse saudosismo no fundo é um sintoma que a passagem do tempo, para você, não está sendo uma coisa boa, então, o que fazer?
Você sabe? Eu não sei.
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