terça-feira, 1 de julho de 2008

E ninguém sabe de nada / Bittersweet symphony

Boa noite, meu leitor. Tudo bem com você? Eu espero que sim. Porque comigo não está. Sabe quando você se sente como se seus sentidos estivessem dormentes, e tudo o que pensa é encontrar um lugar seguro pra chorar, se escorar? Sim, meu caro. É exatamente assim que me sinto no dia de hoje, mesmo que já tenha encontrado o tal lugar, o suposto recanto onde deveria me sentir segura (minha casa); no entanto, suas paredes me parecem frias e grandes demais.
É estranho (e incomoda) pensar que andamos nas ruas, indo em direção aos nossos afazeres, e, ao nosso lado pode estar um transeunte tão desnorteado quanto nós. A beira do suicídio. Ou que perdeu alguém muito importante, foi demitido, ou que pensa que a vida inteira desbotou, desencantou, descoloriu. E você passa por essa pessoa, cujo grito, mais nítido impossível, está nos olhos avermelhados de dor, e segue adiante. Você não a conhece, não pode ajudá-la; tem pressa da sua vida tão ocupada e egocêntrica.
Talvez mais estranho seja quando isso acontece com você. Aí, as pessoas reagem de modos diferentes: uns querem distância do mundo, uns querem abrir-se, como rosas ensangüetadas. Mas abrir-se para quem? Ligar o IPOD e ouvir aquela música depressiva? Pegar o celular e imaginar que está falando com o melhor amigo? Essas coisas não resolvem, apenas concentram ainda mais o nosso estado de baixo astral. Você está na iminência de desfalecer de desgosto, quer ensurdecer o mundo com seu lamento silencioso, e ninguém sabe de nada. Se sente desimportante, como se tudo o que tivesse vivido dos seus ? anos até agora valessem de nada; evanescessem no asfalto. E ninguém sabe de nada, ninguém está dando a mínima. Não sou hipócrita, não vou te lançar o clichê de "bola pra frente!", "sua vida começou agora", "não desista". Talvez isso seja até o certo (é), mas, dizê-lo agora pode te despertar ainda mais raiva da vida. E sei o quanto irrita, ainda que a pessoa que venha a nos tranquilizar esteja com as melhores intenções. Também não quero que você se mate, não. Acho que o mais sábio - se ainda lhe restar o mínimo de cabeça para isso - é saber aproveitar esse momento mais introspectivo para fazer uma reflexão profunda sobre o que está faltando. Ah, e se você estiver curioso porque lhe digo isso, não me sinto desconfortável (agora) em dizê-lo: fui reprovada no primeiro período em Teoria da Literatura, disciplina ministrada pelo professor Franklin Alves Dassie, da UFF. Os motivos agora não convém, mas um dia eu conto pra vocês.
Tento hoje finalizar este vômito de crônica traçando uma analogia de tudo o que disse com a música Bittersweet symphony (http://www.youtube.com/watch?v=V-Po8uJeoUw) do grupo The Verve. Acredito ser esta música o melhor retrato do desespero efêmero, da perda de controle e do caos interno que hoje se abatem sobre mim. No clipe, existe um homem que anda por uma rua, e esbarra nas pessoas, inconseqüente, desordenadamente, sem pedir desculpas, e que continua cantando. A música ajuda muito. Tem um arranjo muito bonito, apesar de que o vionloncelo introdutório me soa falsamente tranquilizador; como se fosse uma cadeira com um pé em falso, uma estrutura fictícia de solidez. Sob minha ótica, este homem, que anda sem direção, apenas está tentando conversar com os outros e expor toda a sua desventura ou parte dela. Hoje me senti assim. Fria, com cólicas menstruais pungentes, reprovada, chorando pelas ruas de Niterói, sozinha. Voltando pra casa, como quem ambiciona chegar ao nirvana da paz e da solidão.

Um comentário:

Gabriela Guedes disse...

Linda,
No momento em que lhe vi chorando a minha vontade era entrar dentro de ti e arrancar toda essa tristeza que eu vi transbordar de seus olhos, mas eu sabia que não poderia fazer tanto por você, o máximo que pude, foi lhe oferecer o meu ombro e a minha raiva pelo Franklin. Espero que da próxima eu possa oferecer muito mais do que isso, por mais que não saiba, também me senti um lixo sabendo que estaria em VS, pois pessoas que não fizeram por onde passaram direto, mas isso não vem ao caso. Qualquer coisa tô aqui, viu?
Beijos Ana

www.gabizinhaguedes.wordpress.com