Não era jogo do Flamengo,
Não era Natal,
Nenhuma copa do mundo.
Não era a eleição de novo presidente,
Nenhuma revolução,
Não era o juízo final.
Mas as crianças saíram de suas casas.
Pessoas vestidas de branco
elevavam suas vozes aos céus,
Subindo, subindo,
Na velocidade dos fogos de artifício,
que gritavam a toda vizinhança
sua estridente, bonita, barulhenta fé.
Houve dança,
houve canto
e atabaques ecoavam:
não era o meu aniversário,
não era nenhum natalício republicano:
era 23.
era Jorge coroado em todos os lugares.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
domingo, 19 de abril de 2009
Mazel tov
Um brinde ao nosso amor doente. Nosso manco amor, que se arrasta vicioso. Uma ode à loucura conjunta, à obsessão recíproca. Nosso débil amor.
Uma canção ao nosso amor. Um amor cheio de buracos, cheio de cacos, cheio de espinhos. Nosso amor sangrado, suado, violento, intempestivo. Uma salva de palmas à ironia cruel deste laço que nos ainda nos une, traiçoeiro. Um olhar profundo por dentro de cada poro desse amor vicissitudinal, inconstante, fragiforte.
Uma elegia à cegueira de nós dois, ratos cegos se buscando pelo cheiro de mijo, de coito, da impossibilidade de se ver só; do medo letal de se entregar ao mundo outra vez. Nosso amor problemático. Bruto. Insustentável.
Mazel tov à essa insanidade inarrancável, que se uniu às nossas vísceras por fios de câncer e desgraça que, conforme nos alimenta, nos destrói. Um chopp a todo esse nojo bem aceito pelas nossas famílias. Um sorriso à nossa hipocrisia em aceitar esta condição!
Um grito em solene homenagem ao nosso indissolúvel amor. Nosso amor de merda, nosso amor sem sentido, eu te amo; nosso amor vital.
Uma missa ao nosso sexo, com altar, cálice, vela. Ao nosso sexo grosso, seu esperma espesso, sua genitália suja, minha boca na sua, essa imundície procriativa.
Uma salva de tiros a tudo isso. Com sorte, eles nos acertarão.
Uma canção ao nosso amor. Um amor cheio de buracos, cheio de cacos, cheio de espinhos. Nosso amor sangrado, suado, violento, intempestivo. Uma salva de palmas à ironia cruel deste laço que nos ainda nos une, traiçoeiro. Um olhar profundo por dentro de cada poro desse amor vicissitudinal, inconstante, fragiforte.
Uma elegia à cegueira de nós dois, ratos cegos se buscando pelo cheiro de mijo, de coito, da impossibilidade de se ver só; do medo letal de se entregar ao mundo outra vez. Nosso amor problemático. Bruto. Insustentável.
Mazel tov à essa insanidade inarrancável, que se uniu às nossas vísceras por fios de câncer e desgraça que, conforme nos alimenta, nos destrói. Um chopp a todo esse nojo bem aceito pelas nossas famílias. Um sorriso à nossa hipocrisia em aceitar esta condição!
Um grito em solene homenagem ao nosso indissolúvel amor. Nosso amor de merda, nosso amor sem sentido, eu te amo; nosso amor vital.
Uma missa ao nosso sexo, com altar, cálice, vela. Ao nosso sexo grosso, seu esperma espesso, sua genitália suja, minha boca na sua, essa imundície procriativa.
Uma salva de tiros a tudo isso. Com sorte, eles nos acertarão.
sábado, 18 de abril de 2009
A barra
Essa barra, pequena, inquieta
Pisca. Inquisitória.
Fora, outrora,
uma pena hesitante
que ansiava pelo mergulho no tinteiro.
Essa barra, irrisória
Espera por mim. Me desafia.
Fora, outrora,
O lápis que segurei aos cinco anos de idade
quando esboçava garranchosamente
o meu próprio nome.
Essa barra, que marca meu intervalo,
Esfrega toda sua recente tecnologia na minha cara
dotada do mesmo espírito que indaga de milênios atrás.
Essa barra, que nem um centímetro tem,
Sabe o que pensa. É quase diabólica
e aguarda. Por um sopro de inspiração,
por qualquer bobagem.
Essa barra, questionadora,
Me cobra. Me quer.
E conforme pisca, me pergunta:
"O que você tem a dizer?"
Essa barra, essa barra!
Tão fininha, tão maldita!
Muitas vezes esperando palavras que não posso dar-lhe;
ela é constante, eu não.
Essa barra, que corre em momentos de fertilidade literária,
Que brinca de pique-esconde em instantes de total déficit mental
É a divisa entre o 'eureka' e o 'bah',
É a escrita do bem e do mal.
Pisca. Inquisitória.
Fora, outrora,
uma pena hesitante
que ansiava pelo mergulho no tinteiro.
Essa barra, irrisória
Espera por mim. Me desafia.
Fora, outrora,
O lápis que segurei aos cinco anos de idade
quando esboçava garranchosamente
o meu próprio nome.
Essa barra, que marca meu intervalo,
Esfrega toda sua recente tecnologia na minha cara
dotada do mesmo espírito que indaga de milênios atrás.
Essa barra, que nem um centímetro tem,
Sabe o que pensa. É quase diabólica
e aguarda. Por um sopro de inspiração,
por qualquer bobagem.
Essa barra, questionadora,
Me cobra. Me quer.
E conforme pisca, me pergunta:
"O que você tem a dizer?"
Essa barra, essa barra!
Tão fininha, tão maldita!
Muitas vezes esperando palavras que não posso dar-lhe;
ela é constante, eu não.
Essa barra, que corre em momentos de fertilidade literária,
Que brinca de pique-esconde em instantes de total déficit mental
É a divisa entre o 'eureka' e o 'bah',
É a escrita do bem e do mal.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
A neo-cultura da foto
Confesso que adoraria criticar aqui essa coqueluche que se espalhou entre as pessoas e espezinhá-las dizendo o quão ridículo isso é. Mas me responda: como fazê-lo sendo integrante descarada dessa tribo? Não há maneira de dizer que não.
A princípio, eu achei que fosse só uma modinha que não iria demorar, mas depois de todas as raves, passeios, shows, eventos e festas que fui, constatei que a neo-cultura da foto veio pra ficar. Mas não é uma foto que se tira para guardar quando a saudade apertar, ou quando se pretende encontrar com ela para reviver um momento bom; mas cuja única finalidade é adornar focebooks, blogs, orkuts e virar fruto de vários comentários.
Bom? Ruim? Nem um, nem o outro. É tão só e simplesmente o choque de duas culturas que chegaram a um ponto de fusão. Há coisa de uns 10, 15 anos atrás, as fotos tinham esse fim, de virarem álbuns que guardávamos em alguma caixa que pensava ser coração. Mas houve uma mudança, que pode ser chamada de evolução, e hoje, com a facilidade de aquisição de câmeras digitais - a propósito, as tão exaustivamente usadas câmeras polaróides e 'toco-preto', que você colocava o olhinho e focalizava o objeto a ser fotografado já devem estar nas estantes vintage mais próximas - e a facilidade também de divulgação desse tipo de foto por toda a rede afora em questão irrisória de segundos, foram aliados nessa revolução cultural da foto. E haja photoshop, coreldraw, efeitos, técnicas; tudo para tornar uma foto comum num banner publicitário.
Não me ponho aqui como defensora de um lado ou de outro. Nada é imutável ou estaciona permanentemente no tempo. Daqui a alguns anos, quiçá, está cultura também será transposta por outra, sabe-se lá qual. Mas é interessante seu estágio contemporâneo. Acredito que nosso envelhecimento como um todo será melhor recortado e observado. Bom, quando eu tinha 18 anos eu era assim, olha o quanto eu envelheci em dois anos, etc. É a sucção da informatividade, da atualização-câncer. Todo mundo, no fundo, quer ser visto. Quer, de alguma maneira, se mostrar, dar seu melhor, passar sua mensagem com uma assinatura muito física. E não há nenhum pecado nisso.
Efêmera ou não, toda tendência reflete o timão de sua sociedade. E com a neo-cultura da foto não é diferente.
Boa segunda-feira!
A princípio, eu achei que fosse só uma modinha que não iria demorar, mas depois de todas as raves, passeios, shows, eventos e festas que fui, constatei que a neo-cultura da foto veio pra ficar. Mas não é uma foto que se tira para guardar quando a saudade apertar, ou quando se pretende encontrar com ela para reviver um momento bom; mas cuja única finalidade é adornar focebooks, blogs, orkuts e virar fruto de vários comentários.
Bom? Ruim? Nem um, nem o outro. É tão só e simplesmente o choque de duas culturas que chegaram a um ponto de fusão. Há coisa de uns 10, 15 anos atrás, as fotos tinham esse fim, de virarem álbuns que guardávamos em alguma caixa que pensava ser coração. Mas houve uma mudança, que pode ser chamada de evolução, e hoje, com a facilidade de aquisição de câmeras digitais - a propósito, as tão exaustivamente usadas câmeras polaróides e 'toco-preto', que você colocava o olhinho e focalizava o objeto a ser fotografado já devem estar nas estantes vintage mais próximas - e a facilidade também de divulgação desse tipo de foto por toda a rede afora em questão irrisória de segundos, foram aliados nessa revolução cultural da foto. E haja photoshop, coreldraw, efeitos, técnicas; tudo para tornar uma foto comum num banner publicitário.
Não me ponho aqui como defensora de um lado ou de outro. Nada é imutável ou estaciona permanentemente no tempo. Daqui a alguns anos, quiçá, está cultura também será transposta por outra, sabe-se lá qual. Mas é interessante seu estágio contemporâneo. Acredito que nosso envelhecimento como um todo será melhor recortado e observado. Bom, quando eu tinha 18 anos eu era assim, olha o quanto eu envelheci em dois anos, etc. É a sucção da informatividade, da atualização-câncer. Todo mundo, no fundo, quer ser visto. Quer, de alguma maneira, se mostrar, dar seu melhor, passar sua mensagem com uma assinatura muito física. E não há nenhum pecado nisso.
Efêmera ou não, toda tendência reflete o timão de sua sociedade. E com a neo-cultura da foto não é diferente.
Boa segunda-feira!
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Os contos dos viajantes (Parte II)
Chovia muito quando o viajante Seu Luís sentou-se a meu lado. Como o viajante Roni, me ofereceu uma bala que, desta vez,aceitei. Seu Luís é pai de quatro filhos crescidos que moram em diferentes lugares do Brasil. Como Celeste, também estava às vésperas de seu sessentenário, que pretendia comemorar na companhia de sua mulher e de um grupo de aniversariantes do mesmo mês, num hotel-fazenda no interior do RJ. Esse costume já estava se repetindo pela sétima vez. Acredito que, de todos os viajantes, ele foi o mais falante. Relatou-me, entre outros, dois memoráveis episódios de sua vida: a morte de sua mãe em seus braços - e seu estranhamento/despreparo com relação à esta, afinal, infartos não avisam - e de quando, com 20 anos, sofrera um assalto que resultou num coma seguido de uma cadeira de rodas durante um ano. Um tiro na cabeça que poderia ter sido o fim. O doce viajante lembrava de tais epifanias com lágrimas discretas no canto dos olhos, vangloriando-se da oportunidade única de viver após um ano numa cadeira de rodas. Grande prazer o meu em conhecê-lo.
O sol chicoteava as maçãs do meu rosto quando uma senhora passou a minha frente na fila, no momento que os passageiros começavam a ingressar no bonde mágico. Todos apressaram-se em esclarecer que ela havia chegado antes, e havia se abrigado sob o toldo para aplacar a fúria do astro-rei, ao que imediatamente cedi sua passagem no instante em que vi nela uma pessoa educadíssima. 6,50. Passe.
A princípio, ela procurou outro lugar para se sentar, então só depois instalou-se à minha direita. "O cara tava achando que o ônibus era dele, todo esparramado nas poltronas!" e a partir disso, eu descobri que ela era Dona Jandira, que morou 53 anos em Caxias e agora tinha se mudado para Niterói pela qualidade de vida superior. Em casa, o marido lhe esperava, bonachão. Ela tinha dois filhos com 18 anos de diferença entre eles, mas falava do mais novo com um certo pesar implícito. O que seria? Eu jamais perguntaria.
Meu último viajante eu conheci quando voltava para casa. Com licença. Toda. Aceita uma bala? Era tamarindo, e como eu negaria? Boa noite, meu nome é Paulo. Prazer, Paulo, eu me chamo Ana. Oi Ana, tudo bem? Tudo sim, e você? Tudo ótimo.
Paulo então começou a me contar sua breve biografia. Estude, Ana, mas principalmente trace um objetivo e nunca desista dele. Lembrei das minhas aulas de semiótica e do objeto-valor. Você faz o que? Letras! Que legal... eu faço direito agora, mas pela falta de um direcionamento eu ainda não me formei... eu sou baiano... de Salvador. Nossa, terra boa! Fui lá tem pouco mais de um ano. É sim, eu sinto falta da Bahia... agora divido o meu tempo entre faculdade e quartel. Ah, você é do quartel? Sim... entrei neném... com 17 anos. Nossa! Pois é... lá eu sou cozinheiro. Pronto. E toma-lhe receitas de bolos, massas, pratos, etc, etc. Avenida Brasil, aqui é meu ponto... foi um prazer te conhecer, Paulo, fica com Deus! E da janela eu acenei para ele.
Os viajantes que cruzam o meu caminho não me apresentam defeitos. São bons de coração e prodigiosos. Suas histórias são como arenas outras que não ouso pisar, mas observo atentamente. Trajetórias. Caminhos entrecortados. Tudo aquilo que pode ser alterado pelo mero contato com o alheio, tudo aquilo que muda o dia no fim do dia. Aventureiros sozinhos, corajosos, que não temem conhecer outras pessoas, cada uma com uma propriedade inalienável chamada índole. E meus viajantes se misturam ao mundo que também ajudam a delinear, posto que são todos peça deste grande quebra-cabeça. E então ninguém é mais ilha, todo mundo comunga da história e não consegue ser sozinho.
O bonde mágico tem um quê de salvador da sanidade a cada insólito dia que termina.
O sol chicoteava as maçãs do meu rosto quando uma senhora passou a minha frente na fila, no momento que os passageiros começavam a ingressar no bonde mágico. Todos apressaram-se em esclarecer que ela havia chegado antes, e havia se abrigado sob o toldo para aplacar a fúria do astro-rei, ao que imediatamente cedi sua passagem no instante em que vi nela uma pessoa educadíssima. 6,50. Passe.
A princípio, ela procurou outro lugar para se sentar, então só depois instalou-se à minha direita. "O cara tava achando que o ônibus era dele, todo esparramado nas poltronas!" e a partir disso, eu descobri que ela era Dona Jandira, que morou 53 anos em Caxias e agora tinha se mudado para Niterói pela qualidade de vida superior. Em casa, o marido lhe esperava, bonachão. Ela tinha dois filhos com 18 anos de diferença entre eles, mas falava do mais novo com um certo pesar implícito. O que seria? Eu jamais perguntaria.
Meu último viajante eu conheci quando voltava para casa. Com licença. Toda. Aceita uma bala? Era tamarindo, e como eu negaria? Boa noite, meu nome é Paulo. Prazer, Paulo, eu me chamo Ana. Oi Ana, tudo bem? Tudo sim, e você? Tudo ótimo.
Paulo então começou a me contar sua breve biografia. Estude, Ana, mas principalmente trace um objetivo e nunca desista dele. Lembrei das minhas aulas de semiótica e do objeto-valor. Você faz o que? Letras! Que legal... eu faço direito agora, mas pela falta de um direcionamento eu ainda não me formei... eu sou baiano... de Salvador. Nossa, terra boa! Fui lá tem pouco mais de um ano. É sim, eu sinto falta da Bahia... agora divido o meu tempo entre faculdade e quartel. Ah, você é do quartel? Sim... entrei neném... com 17 anos. Nossa! Pois é... lá eu sou cozinheiro. Pronto. E toma-lhe receitas de bolos, massas, pratos, etc, etc. Avenida Brasil, aqui é meu ponto... foi um prazer te conhecer, Paulo, fica com Deus! E da janela eu acenei para ele.
Os viajantes que cruzam o meu caminho não me apresentam defeitos. São bons de coração e prodigiosos. Suas histórias são como arenas outras que não ouso pisar, mas observo atentamente. Trajetórias. Caminhos entrecortados. Tudo aquilo que pode ser alterado pelo mero contato com o alheio, tudo aquilo que muda o dia no fim do dia. Aventureiros sozinhos, corajosos, que não temem conhecer outras pessoas, cada uma com uma propriedade inalienável chamada índole. E meus viajantes se misturam ao mundo que também ajudam a delinear, posto que são todos peça deste grande quebra-cabeça. E então ninguém é mais ilha, todo mundo comunga da história e não consegue ser sozinho.
O bonde mágico tem um quê de salvador da sanidade a cada insólito dia que termina.
domingo, 5 de abril de 2009
Os contos dos viajantes (Parte I)
O ponteiro menor do relógio já se prepara para abraçar as treze horas. Espero na fila pelo meu bonde, que é, em verdade, encantada aldeia das mais distintas gentes. Subo a escadela. Boa tarde, motorista. R$6,50. Passe.
Eis que se aproxima a primeira viajante. Celeste. Uma viúva bem resolvida e serelepe, no mais puro realismo do termo. Viajante viajada. Dois anos antes havia estado na Grécia e em outros países. Alguns dias depois, faria 62 anos, e sua saúde física e espiritual eram tão formidáveis que reduziam este número em pelo menos uma dezena. Simpática, com um ótimo gosto, adepta de festas com a neta e residente de Cabo Frio, abençoado recanto. Tranquilamente ainda degustaria de mais alguns bons 60 anos.
Dias depois do meu encontro com Celeste, à mesma hora e lugar conheci Roni, o paraense. Me ofereceu uma bala que recusei não por medo, mas por falta de vontade. Contou-me de sua odisséia até o Rio de Janeiro, e espantou a hostilidade do carioca nas relações humanas, quando disse ter sido ignorado nas vezes em que foi pedir informação. Ficou à beira das lágrimas quando começamos a conversar sobre times, que nele sucitaram lembranças do irmão, vascaíno inveterado como eu, de 14 anos, que a morte levou muito cedo. Atualmente, trabalha numa empresa niteroiense. Simples, humilde e promissor. Roni.
Não posso deixar de mencionar também o fiel Francisco de Oliveira Chagas, como ele mesmo se apresentou. Evangélico e fanho, tentou, num primeiro momento, peregrinar cruzadorescamente sua fé, mas direcionei a conversa para outro ponto. Aparentemente de origem pobre, o beata esperava por Jesus. E começou a me contar que estava aprendendo a tocar teclado, e o assunto fermentou quando eu disse que possuía um, e embora não soubesse ler as partituras, tocava conforme os meus ouvidos. Disse a mim que adoraria aprender (sic) latino, e quando eu lhe contei que estava tendo noções dessa língua, ele abriu um baú de perguntas deslumbradas, muitas das quais eu não tinha a mínima base para responder. Francisco de Oliveira Chagas. Siga em paz.
Eis que se aproxima a primeira viajante. Celeste. Uma viúva bem resolvida e serelepe, no mais puro realismo do termo. Viajante viajada. Dois anos antes havia estado na Grécia e em outros países. Alguns dias depois, faria 62 anos, e sua saúde física e espiritual eram tão formidáveis que reduziam este número em pelo menos uma dezena. Simpática, com um ótimo gosto, adepta de festas com a neta e residente de Cabo Frio, abençoado recanto. Tranquilamente ainda degustaria de mais alguns bons 60 anos.
Dias depois do meu encontro com Celeste, à mesma hora e lugar conheci Roni, o paraense. Me ofereceu uma bala que recusei não por medo, mas por falta de vontade. Contou-me de sua odisséia até o Rio de Janeiro, e espantou a hostilidade do carioca nas relações humanas, quando disse ter sido ignorado nas vezes em que foi pedir informação. Ficou à beira das lágrimas quando começamos a conversar sobre times, que nele sucitaram lembranças do irmão, vascaíno inveterado como eu, de 14 anos, que a morte levou muito cedo. Atualmente, trabalha numa empresa niteroiense. Simples, humilde e promissor. Roni.
Não posso deixar de mencionar também o fiel Francisco de Oliveira Chagas, como ele mesmo se apresentou. Evangélico e fanho, tentou, num primeiro momento, peregrinar cruzadorescamente sua fé, mas direcionei a conversa para outro ponto. Aparentemente de origem pobre, o beata esperava por Jesus. E começou a me contar que estava aprendendo a tocar teclado, e o assunto fermentou quando eu disse que possuía um, e embora não soubesse ler as partituras, tocava conforme os meus ouvidos. Disse a mim que adoraria aprender (sic) latino, e quando eu lhe contei que estava tendo noções dessa língua, ele abriu um baú de perguntas deslumbradas, muitas das quais eu não tinha a mínima base para responder. Francisco de Oliveira Chagas. Siga em paz.
Assinar:
Postagens (Atom)