sábado, 9 de maio de 2009

E todo mundo salva o mundo

Salvar o planeta ficou cult. Aliás, cult não; virou uma febre. Tá todo mundo um bocado cabreiro com essas previsões - antiiigas, mas agora muito em voga - nada animadoras sobre os prejuízos incalculáveis que o homem, em sua insana ganância, já produziu ao meio-ambiente, e já tem um monte de gente batendo em retirada quando o assunto é high-technologic ou, pelo menos, freando seus impulsos capitalistas. De repente, ostentar ficou cafona. As eco-bags estão vendendo mais que banana em feira. O reciclado é o novo chic. Todo mundo fazendo Yoga. Cada vez mais as pessoas, os antenados, os velhinhos da zona sul e as crianças estão aderindo à moda, devidamente orientados pela propaganda massiva em torno da redução drástica do consumo.
Mas ei. Vamo devagar.
A mesma propaganda que apregoa apelativamente o repensamento quanto à questão ambiental ainda é, majoritariamente, uma sombra sobre o maior motor de degradação do nosso cansado planetinha. Sim! É um tiro no pé, mas uma maneira sabiamente estratégica de se eximir da culpa. Por exemplo, eu não consumo Mc'Donalds. Preceito meu de ontem e hoje. Acho aquilo ali o cúmulo do auto-desrespeito com a saúde, apesar de reconhecer o quão saborosos são seus Sundae's. Mas outro dia, calhou de me mostrarem um daqueles panfletinhos que vem com as bandejas. Nele, o Ronald Mc'Donald ensinava formas simples de extender o prazo de vida útil do nosso mundo com atitudes simples. Coloridinho. Louvável. Quase um cartaz do greenpeace. Mas será que já se parou pra pensar na quantidade de lixo que uma única pessoa produz com um só Mc' Mínimo Lanche? É papelzinho pra tudo quanto é lado, dezenas de sachês, plástico, caixinha do hamburguer, da batata. Agora multipliquemos o número por... ah, numa escala global, dá pra ter a dimensão, né? E a amistosa e responsável mensagem da bandejinha vai para o mesmo lixo, mas a gente acaba não percebendo isso.
Entretanto não peguemos o Mc' Donald's pra Cristo sozinho. Hoje em dia, existe uma ascenção monstruosa no número de pequenas, médias e gigantes empresas que tentam passar, de alguma forma, o quão preocupadas estão com o futuro da nossa casa; quão respirável será o ar das crianças de 2.200, quanta água vai haver pra saciar as gerações dos próximos séculos, se é que eles chegarão. O tal 'desenvolvimento sustentável' é muito mais que essencialmente toda a precaução em torno do mundo que virá. Ele foi infelizmente convertido na maior estratégia de marketing do mundo, que contraditoriamente alimenta toda a indústria que continua - pasmem! - agredindo tão descaradamente o planeta em que vivemos, sob a égide falaciosa de que estão assumindo um compromisso com o amanhã. Não que toda empresa que se diga pró-planeta seja sempre falsária; mas com a estatística assombrosa de que muitas o são, fica de fato muito difícil confiar em alguma. Afinal, todo bom empresário de século XXI tem na cabeça que é preciso preservar o globo - e difundir essa mensagem atrelada ao seu negócio não é nada, nada mau. Semioticamente, a manipulação bem feita projeta o enunciado (a mensagem de um planeta feliz e saudável) estrategicamente para o seu enunciatário (o povo, que necessariamente precisa acreditar nisso pra fazer a coisa andar). E pelo visto, todos esses grandes gerenciadores e administradores prestaram muita atenção a esse pequeno e relevantíssimo detalhe.
Teoricamente, a positividade reina. Nós, detestáveis terráqueos, fomos, por muito tempo, seres irresponsáveis, que não davam a mínima para esse presente que recebemos e não merecemos chamado natureza. Mas agora será completamente diferente.
No que depender da nossa boa ação e das grandes corporações, o mundo já foi salvo. E há muito tempo.

Dedico este post a Renata Ciampone Mancini, uma incrível semioticista.

Um comentário:

Lázaro Barbosa disse...

Quando a gente jogar o tal do PlayStation, vou te levar um texto de Millôr Fernandes que tenho comigo: "Decálogo". Quanto à semiose, lembro que fiz um vídeo pra uma disciplina em Natal - "Homeomerias semiofrênicas" -, uma brincadeira podre do ponto de vista técnico, mas bem divertida do conceitual (pelo menos a filosofia me ensina algo interessante ahueioheoiauheuioaeh). Pena que não upei ele pro YouTube... Mas, se Peirce estivesse vivo, ia pirar o cabeção; imagina como não estará Eco!

Saudações verdes

Lázaro