segunda-feira, 11 de maio de 2009

O darwinismo internético da mediocridade

Juro que custei a acreditar quando li, mas qual foi minha cara de paisagem quanto à mais nova babaquização da elite, na deplorável tentativa de destacamento do que a gente - simples, de carne e osso, e sem BMW na garagem - denomina "reles mortais". Pode ser ou parecer anacronismo meu, mas eu simplesmente não concebo que ainda existam pessoas que medem por seu poder aquisitivo a deliberada - e por que não - deturpada legitimação em ser superiores a todo o resto.
Não sei se sua mente funciona como a minha, caro leitor, mas se sim, a essa altura você deve estar se perguntando a que se deve essa repulsa gratuita que ainda não justifiquei, certo? Pois bem. É que fui tomada de um assalto crescente ao encerrar uma leitura que me foi tão desgostosa por ter me feito constatar - não que eu não soubesse - até onde vai a pequenez do caráter humano em suas sórdidas relações, que encontram principalmente no vil metal um terreno fertilíssimo para se explodirem de si.
Chega de deixar meu leitor orbitando. Falo do mais novo frisson chamado http://www.elysiants.com/; cujo fútil e bem sucinto tema resume-se a "Celebrate life in style". Esta é mais nova idiotice a serviço duma minoria a que interessa somente alimentar a impossível idéia de importância suprema, não-contato com o reles resto, de uma superioridade nefelibatística e sem propósito. Desenvolvido por Arthur de Groot e Ronald de la Fuente-Sanchez, com sede em Hong Kong, o site tem por volta de 15 mil usuários, e só não está se espalhando com a rapidez característica das comunidades virtuais de relacionamento por sua enfática e claríssima proposta: foi feito pra quem 'pode'. Marcadamente com uma postura opulenta e ostensiva, a novidade ignora toda e qualquer pessoa que não corresponda ao perfil de seus idealizadores e membros, delineando assim um tênue círculo seleto de artistas e figuras do jet set nacional e internacional. O Elysiants é a impressão máxima do status que a posse é capaz de conferir a um indivíduo, não importando aí sua procedência e discriminando por completo a idéia - quiçá ultrapassada - de que todos são iguais.
Vão? Estúpido? Eu poderia nominar com N adjetivos nada amistosos a minha visão sobre este modismo que visa delimitar 'os melhores', e ainda acredito que seria pouco. E com base em que? Na criação de uma ordem intolerante à imiscuição social, totalmente individualista e absurdamente voltada para os valores capitalistas mais elementares. E o pior é que, na dança sem fim nem compasso dessa alienação, vão, iludidos, os lacaios dessa sub-cultura do nonsense: as assistentes de madames, os papagaios de pirata dos empresários, os robôs humanos da escória bem-sucedida que toda pirâmide social apresenta, que compram com o último resquício de suas voláteis personalidades toda uma simbologia que nunca será condizente com as origens que tentam maquiar, e tudo isso para penetrar no seio de uma sociedade cuja frivolidade é o lema. Parem tudo, que eu quero descer.

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