Comecei a pensar nessa postagem considerando a Literatura e o Cinema como irmãos. Dois doces irmãos, duas crianças deliciosamente travessas. Sua afinidade seria tamanha, como não poderia deixar de ser. Muito freqüentemente seria possível que os espreitássemos fazer arte, e definitivamente a melhor que seriam capazes de produzir seria aquela que realizassem gozando de plena conjunção. Tudo ia bem com esta prévia definição, até que comecei a tropeçar e duvidar dos meus próprios argumentos, quando percebi que existe algo bem mais carnal, por assim dizer, entre esses dois. E constatei que o laço que os une é outro.
Passei a vê-los como primos, por serem muito fisicamente parecidos, mas há uma coisa que imanta os dois que não pode ser compreendida como um claro amor familiar. Foi quando abri meus olhos.
O estreito liame que eles mantem é, de fato, muito mais íntimo. O Cinema, muito mais moço que a Literatura, atrai esta pela questão do frescor, de sua capacidade indescritivelmente realista e sincera de representar a arte escrita. O Cinema, como provar de amor, fala pela sua amada. A Literatura, por sua vez, exerce sobre o Cinema a forte influência da experiência; aquele charme irresistível da melhor idade que acintosamente acompanha o conteúdo. Eles flertam. A disparidade entre suas idades é só um mero detalhe aos indiscretos. Trocam olhares, carícias. Perspectivas. São amantes e publicamente o fazem, imprimindo no produto desse sensual encontro sua expressão máxima da gratidão aos artistas idealizadores desta relação - gratidão por sinal, mútua. Como todo casal, têm crise por nem sempre concordarem com tudo. Às vezes, a Literatura diz uma coisa e o Cinema diz outra. Aliás, entre eles essa é uma constante, e raros são os casos em que partilham de absoluto consenso.
O Cinema e a Literatura são interdependentemente crônicos. A Literatura, antes do cinema, já era magistral; mas foi com o nascimento deste que adquiriu o viço que faltava. Quando fundidos, estes belos nos presenteiam com "Lolita", "Forrest Gump", "O bebê de Rosemary", "Tróia", "O silêncio dos inocentes", "E o vento levou", e um sem número de outros. E qual não é o meu deleite em folhear as belas saias da Literatura, provocando os ciúmes do Cinema, ou mergulhar no denso universo dele, que me traga e me devora. Seja como for, em uníssono eles já brilham. Mas, em parceira, ofuscam.
Ave a longevidade deste casal. E que este continue a nos brindar por toda a vindoura história.
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