domingo, 29 de março de 2020

Os vizinhos

de repente uma cabeça
surge no quadro uma cabeça prateada
talvez à procura da xícara amarela
do desentupidor da pia

também um braço, só um
no detalhe um braço fino
de desenhos decorado um braço
feminino
sobe e desce no ar, desaparece
caça uma caixa uma agenda
uma fita crepe um retrato

duas pernas do mesmo corpo
seus pêlos compridos dois
eucaliptos siameses
param e pensam mas não sabem
o que vieram fazer aqui

tantas vezes no cinema essa
cena
o acaso apela
e revela apenas
o busto negro da romana criatura
outono moço, ainda
faz brilhar no peito um colar de pleno esforço

alvoroçados centauros disputam
corridas impossíveis no deserto absurdo
dentro da noite grande.

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