Não, seu pervertido, não daquilo que você está pensando aí, mas, sim, eu sou uma máquina. Uma máquina não, uma fábrica. Melhor: uma fábrica não, uma indústria. Pronto. Eu sou uma indústria. Uma indústria que produz, entre dejetos, alguma coisa 'reciclável'. Saio escrevendo, tão desvairada e ilimitadamente sobre as coisas mais banais do dia-a-dia, em qualquer superfície que se possa rabiscar. Outro dia, me peguei escrevendo numa das folhas de uma planta chamada costela-de-Adão, que fica em frente ao bloco B da UFF, como também escrevo em papel higiênico quando a poesia fica insustentavelmente pesada, - afinal, sentar no vaso e ler revista tem hora que enjoa, né? - por isso, tenho sempre à mão uma caneta onde quer que eu vá. Escrevo, exponho. Da lata do lixo à atual crise belicosa da Georgia. Como se fosse importar ou mudar a vida de alguém. Só que eu não consigo parar, porque, pra mim, escrever é tão vicioso quanto roer unha. É bom, ajuda a não atrofiar o cérebro e mantê-lo sempre em atividade; pelo menos assim diziam minhas professoras primárias, ou, com a licença sentimental, "as tias".
Eu queria escrever sobre coisas mais interessantes, temas diversificados, qualquer-coisa-que-se-sinta. Fazer literatura com tudo é vulgarizar? Ah, não sei. E não tô interessada na resposta. Marcel Duchamps transformou uma privada em arte. Caetano compôs "Você não entende nada", uma canção belíssima que trata da rotina, e foi ovacionado. Porque eu não posso usar do reles, do cotidiano para fazer algo diferente? Honestamente? É porque eu não sei mesmo. Mas deixa assim. É chato explorar um tema tão mastigado né? E a pressão ainda consegue ficar pior porque isso aqui é um blog, e quem vem aqui (os fantasmas) espera temas "cult", com uma abordagem "cult", essa roupagem tão comum aos blogs, que eu definitivamente não sei obedecer ou penso não saber. Você deve estar pensando que este post tá com cara de desabafo, né? E se for?
Mesmo assim, sem seguir o "parâmetro" - ele existe ou é só um conceito lendário? - dos blogs, eu sigo escrevendo. Porque, como os atletas da Pequim de agora, a gente só chega à excelência com muito treino, por isso, reitero: dane-se se minha escrita incomoda, ou é feia, ou sem graça. Vou aprimorá-la. Enquanto isso, continuarei essa máquina sangrativa de escrever humana.
Um comentário:
Bom, sua escrita é muito boa, flui que é uma beleza, não tem aquelas firulas que dão no saco e, de quebra, você parece ser feita da mesma coisa que eu: de cotidianos multidimensionais indo pra lugar nenhum.
p.s.: eu não sou um fantasma (será mesmo?) mas acredito que virei aqui com frequência, torço por novos posts! Até mááááááá
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